Dirigido por Howard Hawks, EL
DORADO é protagonizado por John Wayne e Robert Mitchum. O primeiro interpreta um
lobo solitário, aqueles tipos que vagueavam pelo velho oeste sem eira nem
beira, aceitando os trabalhos mais diversos, desde que eles incluíssem o uso de
sua arma. O segundo é o xerife da cidade que dá nome ao filme, homem que
precisa de ajuda para mediar um conflito entre dois fazendeiros, principalmente
depois que uma desilusão amorosa o faz mergulhar pesado no álcool. Os dois são
amigos, até mesmo por isso o personagem de Wayne volta para ajudar o de Mitchum
quando as coisas parecem insolúveis pelas vias diplomáticas. Auxiliando eles,
um jovem que não sabe atirar e um idoso que se autoproclama matador de índios.
Assim como na obra-prima Onde Começa o
Inferno, Hawks privilegia os momentos de espera, mais importantes, de fato,
que os tiroteios responsáveis por pontuar os desdobramentos da contenda. Há
humor, uma boa dose de romance, mas, sobretudo, a valorização da amizade, algo
visto tanto na proximidade dos dois protagonistas quanto na trajetória do
novato que passou dois anos caçando os responsáveis pela morte de um velho
amigo de quem herdou o chapéu estranho.
AUDAZES E MALDITOS é um faroeste
vanguardista, no qual John Ford discute o preconceito racial. A culpa de um crime
bárbaro (estupro seguido de duplo homicídio) é imputada ao sargento Rutledge, membro
respeitado e exemplar do exército norte-americano. Ele é negro e sabe muito bem
que a cor de sua pele pode determinar o veredito da corte marcial. Quase sem esperanças, Rutledge não se pronuncia sobre o caso, pelo
menos até o julgamento em que é defendido pelo colega e amigo Tom Cantrell
(Jeffrey Hunter). Os eventos anteriores e posteriores ao assassinato da
adolescente e de seu pai, também um oficial do exército, surgem nos
depoimentos das testemunhas do processo que decide o futuro de Rutlege.
Embora não estenda a questão aos indígenas, vistos no filme
apenas como antagonistas sanguinários capazes das maiores atrocidades e,
portanto, indignos de nossa simpatia, esta realização de John Ford abraça o combate à
discriminação, primeiro, mostrando toda opressão que achata o homem de honra
ilibada, tachado criminoso muito mais por conta de sua raça que propriamente em
virtude dos indícios, e segundo, mostrando-o como uma figura heroica, alguém
que ainda se sente escravo, dada a conjuntura social que hipocritamente diz-se
igualitária, mas que, na verdade, rebaixa e repele todos que não são brancos e
endinheirados.
Embora esteja sempre acompanhado na
jornada para levar um bandido à cidade onde lhe pagarão pelo serviço de captura, o
protagonista de O HOMEM QUE LUTA SÓ é essencialmente solitário, alguém que
interage em virtude da necessidade, sobretudo por estar focado numa questão muito
particular. O personagem interpretado por Randolph Scott convive com ameaças, dos índios que querem esposar uma de suas acompanhantes de viagem, do irmão do
sacripantas que ele escolta até a forca e de um companheiro de estrada que
deixa clara a intenção de lhe matar para poder usufruir do benefício da
anistia, concedido como recompensa. As cenas de ação, muito bem filmadas, evidenciam a
relação do homem do velho oeste com a natureza que o circunda. Contudo, o diretor Budd
Boetticher privilegia a exposição das motivações. Cada personagem
possui uma intenção muito bem definida, pela qual luta, não importando o
esforço e/ou a consequência. Vingança e luto se mesclam no final redentor, no qual o fogo consome o totem da dor de quem já viu de tudo nos
descampados do oeste selvagem.
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