sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Doses Homeopáticas #34


Quentin Tarantino vinha amadurecendo a ideia de fazer um western, gênero pelo qual sempre declarou admiração. Logo depois de incursionar pela Segunda Guerra Mundial, ele então decidiu entrar de cabeça no Velho Oeste, mostrando a saga de um escravo liberto em busca de sua amada ainda prisioneira. DJANGO LIVRE é esse filme que contém boa parte das marcas registradas do cinema de Tarantino. Nele temos violência estilizada, uma baita trilha sonora, que vai de Ennio Morricone ao rap, piscadelas para cinéfilos – a aparição de Franco Nero, o Django italiano é a mais evidente delas – entre outros expedientes comuns às realizações desse americano que provou ir além dos êxitos iniciais, construindo uma carreira sólida, feita de filmes calcados em seu conhecimento cinéfilo. O pastiche adquire outra camada de significado, perdendo a conotação pejorativa. Se em Bastardos Inglórios os judeus foram à forra contra Hitler e seus asseclas, aqui os negros escravizados, por meio de Django, têm também um pouco de vingança. Tarantino não corrige a história, mas sim lhe dá cinematograficamente a oportunidade de redimir-se.  


O HOBBIT: A BATALHA DOS CINCO EXÉRCITOS é o filme mais fraco da trilogia que inventaram para levar às telas o livro de Tolkien que bem poderia ser condensado num longa só, talvez com resultado menos dispersivo. Na trama, temos uma série de fatores em jogo: o poder, a superação, a lealdade, a ganância, e tudo isso é abordado com maior ou menor intensidade. Mas Peter Jackson preferiu mesmo as batalhas, aquelas cenas grandiosas que nos filmes da saga O Senhor dos Anéis funcionavam tão bem, mas que em O Hobbit, mais particularmente nesta terceira parte, soam apenas como interlúdios barulhentos e sem muita carga de emoção entre uma passagem dramática e outra. Pela primeira vez os efeitos especiais aparecem meio falsos (talvez pela onipresença), bem como a grandiloquência, antes orgânica, agora apenas um sinal do tamanho da produção. Às vezes, parece um filme dirigido no piloto automático, com brechas até para humor involuntário. Em suma, uma realização bem aquém das demais que visitaram a Terra Média. 



Com a morte de John Hughes, parece que o cinema norte-americano perdeu boa parte da capacidade de falar de e para a juventude. FÉRIAS FRUSTRADAS DE VERÃO, antes mesmo do sucesso Superbad: É Hoje, evidencia que o cineasta Greg Mottola herdou algo do criador de Curtindo a Vida Adoidado, pela forma aparentemente leve, mas com raízes profundas, com a qual aborda desde anseios banais até alguns questionamentos mais sérios de quem transita entre adolescência e vida adulta. Sem poder contar com a ajuda para ingressar na faculdade, o personagem de Jesse Eisenberg vai descobrir no trabalho de verão num parque de diversões boa parte do que precisa para seguir em frente. Lá ele encontra o amor e seus complicadores, a amizade, a decepção, as dificuldades inerentes de sair da proteção dos pais e encarar a vida em todas as suas possibilidades. Mottola faz um filme simples, brincando com estereótipos e clichês, em busca de uma discussão leve, ainda que não superficial, sobre a necessidade de crescer. E, de quebra, uma excelente trilha sonora. 

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