segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O Visitante

Direção: Thomas McCarthy
Roteiro: Thomas McCarthy
Elenco: Richard Jenkins, Haaz Sleiman, Danai Jekesai Gurira, Hiam Abbass, Marian Seldes, Laith Nakli

Este modesto filme é o responsável pela indicação ao Oscar de Melhor Ator de Richard Jenkins. Mas, afinal, quem é Richard Jenkins? Confesso, na minha ignorância, que, até a nominação, não conhecia este ator, cujo trabalho já acumula mais de cinquenta filmes. Confesso também que, quando vi seu nome entre os indicados, especialmente num ano de intensas e poderosas interpretações masculinas e, depois de umas pesquisas na internet a seu respeito, fiquei com um pé atrás, pensando que poderia ser uma espécie de prêmio de consolação à um ator tão rodado e tão pouco reconhecido. Acabo de assistir O Visitante e devo dizer que estou desestruturado pela atuação de Jenkins e pelo belíssimo filme de Thomas McCarthy.

Richard Jenkins é Walter Vale, um professor entediado, chato e pouco sociável que é obrigado pela faculdade onde trabalha a viajar para Nova York a fim de participar de uma conferência sobre países em desenvolvimento. Ao entrar no apartamento que mantém na Big Apple, ele encontra o músico sírio Tarek e a artesã Zainab morando em sua casa. A confusão acaba mudando radicalmente a vida de Vale, que começa a ver tudo com outros olhos. O gosto de Walter pela arte, mais especificamente pela música, vai fazendo com que, crescentemente, ele se identifique com Tarek, que passa a ajudá-lo a realizar um sonho.

Há algum tempo atrás, assisti à O Agente da Estação, primeiro longa de McCarthy e lembro de ter ficado impressionado com a simplicidade e objetividade deste diretor, com a maneira com que tratava seus personagens e cuidava para que tudo na história se encaixasse, para que todas as peças formassem uma imagem coesa e interessante. Além de diretor, Tom (maneira a qual gosta de ser identificado quando atua) também é roteirista daquele filme e isto, lembro também de ter imaginado, deve ter contribuído para a fluidez narrativa e o domínio que ele, como diretor, tinha da história. Se, em O Agente da Estação, McCarthy já demonstrava talento e visão, em O Visitante ele se supera, ao apresentar o mesmo cuidado e ternura de sua obra inicial, porém, criando uma realização mais densa. Mesmo quando aborda a imigração ilegal nos EUA e o clima de constante vigilância contra os estrangeiros, após a derrubada das torres gêmeas, McCarthy não perde a suavidade. Ele versa sobre temas espinhosos, sem desgastar personagens e, ainda, tece uma trama intensamente política, contestadora dos valores americanos pós-11 de setembro, por meio deste professor e seu amor, quase que velado, pela arte.

O chavão “pequeno-grande-filme” se aplica com perfeição à O Visitante, uma obra modesta, simpática, cheia de mensagens liminares e subliminares sobre a paranóia americana, muito bem escrita, e dirigida com uma elegância típica dos realizadores europeus. E Richard Jenkins? Agora sim eu sei quem é, e acompanharei sua carreira de perto, inclusive retrocedendo no tempo, recuperando o que perdi. E gravem este nome: Thomas McCarthy. Um diretor com tamanha sensibilidade, ora ou outra, será amplamente reconhecido e aí, espero que ele não se perca no meio dos milhões, deixando de lado uma visão tão privilegiada e sincera sobre as pessoas e seus problemas.

3 comentários:

  1. Pretendia ver o filme, mesmo sabendo pouco sobre ele e não tendo visto o filme anterior do diretor, porém agora quero o assistir logo! Apenas assim terei mais argumentos para comentar seu ótimo texto.

    Também não conhecia Richard Jenkins até então... Posso ter visto algo com ele, mas devo ter deixado passar em branco. Aproveitando que estamos falando de atores indicados ao Oscar, me lembrei de onde conhecia o Michael Shannon! Não sei como pude esquecer, na verdade... hehe É ele quem fez 'Possuídos' e 'Antes que o diabo saiba que você está morto'. Grande ator.

    Abraços Celo!

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  2. Celito!!
    "O Agente da Estação" é um filme agradabilíssimo e, o que chamamos "redondinho". Não é fantástico, mas o que se propõe a fazer, faz, e de maneira competente.
    Anotarei esse na minha lista sem fim de próximos filmes a serem vistos.

    Abraçosssss

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  3. Bacana o texto Marcelo :) Fiquei com as mesmas impressões sobre esses dois filmes do T. McCarthy, as melhores possíveis!
    Em "The visitor" tamanha sutileza, sensibilidade e o humor do personagem se alterando cada vez mais, nos fazendo entrar naquela emoção única, cada vez que ele entrava em contato com o tambor, ele se conhecia mais e se permitia viver momentos prazerosos , talvez nunca vividos até então!
    Cada detalhe no filme nos coloca diante de uma emoção diferente e real, muito real.
    Uma beleza de filme!

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