domingo, 1 de fevereiro de 2009

O Leitor

Direção: Stephen Daldry
Roteiro: David Hare, baseado no romance de Bernhard Schlink
Elenco: Ralph Fiennes, Jeanette Hain, David Kross, Kate Winslet, Susanne Lothar, Alissa Wilms, Florian Bartholomäi, Friederike Becht, Matthias Habich, Frieder Venus, Marie-Anne Fliegel, Hendrik Arnst, Rainer Sellien, Torsten Michaelis, Moritz Grove

Stephen Daldry é um daqueles casos sui generis no mundo do cinema. Egresso do teatro, aonde gozava de prestígio como diretor na renomada casa de espetáculos Royal Court Theatre, em Londres, Daldry resolveu explorar novos caminhos, abraçar novos desafios, se aventurando pelo cinema. Sua primeira incursão foi o curta-metragem Eight, indicado ao BAFTA. De posse de uma estréia tão positiva, o diretor, responsável em sua vida teatral por mais de cem peças, resolveu quebrar mais uma barreira. Billy Elliot foi seu primeiro longa-metragem, e sua primeira indicação ao Oscar de melhor diretor, além de diversos prêmios conquistados ao redor do mundo. Depois deste, veio As Horas, filme do qual sou fã incondicional, e que deu a Daldry, em seu segundo longa, sua segunda indicação ao Oscar. Estão vendo porque disse que o caso dele era sui generes? Dois filmes, duas indicações. Aí, eis que este ano estréia O Leitor, e pasmem. Terceira indicação ao Oscar de melhor direção. Alguns acham exagero todo este reconhecimento, sua mais recente nominação foi vista com maus olhos por alguns, muito, é verdade, pelo fato de O Leitor ter sido indicado também à melhor filme, desbancando os queridinhos do público, Wall-E e Batman – Cavaleiro das Trevas. Não tenho dúvidas de que, pelo menos, Wall-E poderia figurar entre os cinco, já que se trata de uma obra-prima, mas não creio que O Leitor devesse ficar de fora, pois é um grande filme também.

O Leitor se passa na Alemanha, numa época pós-guerra e na qual se buscavam os culpados pelo Terceiro Reich como forma de redenção. Os alemães queriam, mais do que ninguém, punir quem trabalhou para a SS a fim de mostrar ao mundo que, nem todos faziam parte ou comungavam da ideologia irracional e preconceituosa de Adolf Hitler. Mas, pelo menos no início do filme, o enfoque exclui um pouco o meio, para se concentrar no amor que surge entre Michael, um jovem de 15 anos, e Hanna, uma mulher madura, que trabalha no sistema alemão de trens. A forma como Daldry, lentamente, explora o envolvimento dos dois, é uma verdadeira aula de ritmo, de como não atropelar fatos ou acelerar indevidamente a narrativa, qualidade, aliás, que era marca registrada de seus dois belíssimos filmes anteriores. Gradativamente nos inteiramos, de forma bem orgânica, do impacto que este envolvimento tem na vida de Michael. Hanna é uma personagem um pouco mais reservada, Daldry parece não ter a intenção de nos mostrar mais dela, pelo menos não na primeira metade do filme. De Hanna só sabemos do seu gosto pelas histórias, principalmente quando existe alguém para lê-las para ela.

O Leitor é um filme muito emocional, dotado da sensibilidade característica dos trabalhos anteriores de Daldry. Por emocional não quero que você, leitor, interprete que seja sentimentalóide ou piegas. A emoção que aflora, nos mais de 120 minutos do filme, é genuína, e provém da soma dos esforços de um diretor competentíssimo, aqui realizando mais um trabalho brilhante, com um núcleo de atores que dão veracidade e alma à história, que, nas mãos de outras pessoas, poderia ser contada de maneira mais trivial. O que mais gosto em O Leitor, e que é outra marca característica de Daldry, é a sutileza de sua abordagem, a forma nada histriônica de apresentar sentimentos, conflitos e mesmo tragédias históricas que, volta e meia, são pano de fundo para enfoques menos inspirados e unidimensionais. Talvez o único senão em O Leitor seja a transição de enfoque, quando a dimensão da história contada vai para além dos dois amantes. Há alguns saltos temporais, e o foco se alarga, situando o casal num contexto mais histórico, usando seu envolvimento para alavancar o que antes era subtrama, e que, por certo tempo, passa a ser o centro da história: o Holocausto. Pensando bem, até este enfraquecimento momentâneo colabora para engrandecer o todo, ao passo que, de alguma forma, amplifica o elo entre Michael e Hanna. No final, O Leitor é mais um belíssimo trabalho de Stephen Daldry. Em minha opinião, ele é um dos grandes diretores da atualidade, seja por seu senso de ritmo, por sua câmera elegante, por seu profundo conhecimento de atores ou por sua simplicidade, que o faz flertar com o cinema clássico, distanciando-o de exibicionismos, mostrando que seu centro é a história. Sua ambição é contar uma boa história, da melhor forma possível. Para mim, O Leitor é isso, sua terceira grande realização. Levando em conta que este é seu terceiro filme, aguardo ansioso o quarto, o quinto, o sexto...

2 comentários:

  1. Olá, Celo! Devo deixar aqui meu testemunho de que "O Leitor" me supreendeu. Pouco sabia sobre ele, na realidade, quase nada. Não me detive ao fato de ser o diretor de um de meus filmes prediletos, "As Horas". Uma história que aborda o fascínio que a cultura e, principalmente, a literatura desperta em um indivíduo sempre me toca de modo peculiar. Grande filme e, indo contra a maré, merece sim um lugar entre os indicados. Ao menos em minha opinião, perde apenas para "Quem ser ser um Milionário?" e, talvez, para "(...) Benjamin Button". Talvez.

    Abraçossss

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  2. Celo!!

    Pra mim a dupla de 'As Horas' não conseguiu obter o mesmo exito em 'O Leitor'. Os problemas no roteiro e no núcleo envolvendo o Michal velho (também pela má atuação de Fiennes) tornam o filme menos apreciável. Porém Kate Winslet merece o Oscar, definitivamente, mas não apenas por seu papel como Hanna, e sim por seu talento descomunal ainda não reconhecido pela academia.

    Um bom filme, com alguns problemas, mas interessante.

    Abraços!!!

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