sábado, 21 de fevereiro de 2009

Famílias se Parecem

Volta e meia surgem filmes, independente do país ou orientação cinematográfica, que tem a chamada “família disfuncional” como mote. Sempre tive uma vaga idéia do que seria uma disfunção em família, mas, como é sempre bom se render à uma boa pesquisa, eis a definição* que encontrei:


“Uma família disfuncional é aquela que responde as exigências internas e externas de mudança, padronizando seu funcionamento. Relaciona-se sempre da mesma maneira, de forma rígida não permitindo possibilidades de alternativa. Podemos dizer que ocorre um bloqueio no processo de comunicação familiar. Pode-se falar em dois modelos básicos de desestruturação nas relações familiares: "há as famílias 'cindidas' e as famílias 'simbióticas'". Nas primeiras, os membros das famílias não conseguem se relacionar entre si. Encontram-se divididos, dispersos. Funcionam e se relacionam como se, ao ficarem juntos, todos corressem riscos do ponto de vista emocional. Assim, as pessoas não podem ter um relacionamento afetivo, são frias entre si. Já no extremo oposto, temos as famílias simbióticas, aquelas em que os membros da família vivem num estado de fusão. Não há diferenciação entre os papéis familiares, estes são confusos e não divididos. As pessoas sentem dificuldades em viver independente dos outros membros da família, estão num estado de constante 'grude'.”


Como pude constatar, não tinha a dimensão exata desta patologia coletiva e, muito menos, que ela tinha variações. Mas, por que diabos estou falando sobre isto? Acabei, há pouco, de assistir O Casamento de Rachel, de Jonathan Demme, um filme que trata, entre outras coisas, de uma família disfuncional. Por mais que o tema seja recorrente, inclusive, de alguma forma, é o mote do meu primeiro curta, sempre é estimulante ver alguém que trate o assunto com tanta sutileza e originalidade. Ok, não há nada de original em uma “ovelha desgarrada” que volta para a companhia dos seus, abrindo velhas feridas, sendo o estopim de um turbilhão de sentimentos, por vezes, conflitantes a respeito de pessoas que, a priori, ela “deveria” amar. A originalidade, aqui, também não se refere ao uso de uma linguagem seca, câmera na mão e maior proximidade com o espectador. Isto já foi visto, com semelhante efeito dramático, no ótimo O Lutador. A grande sacada (aqui abandono a palavra “originalidade” por entender que nem sempre um filme original é um filme bom) em O Casamento de Rachel, reside na forma como o diretor segue um roteiro cheio de silêncios constrangedores e perturbantes, emoldurando personagens simples, espelhos que refletem dramas cotidianos. Alguns são infelizes pelo peso da convivência, outros por não serem convencionais, por não poderem conviver harmoniosamente. Elogiar Anne Hathaway por sua destrutiva e incrível interpretação é fácil, ela, a interpretação, é evidentemente poderosa e surpreendente. O Casamento de Rachel merece ser visto e, eventualmente revisto se você gostar, assim como eu gostei, pelas múltiplas dimensões com que olha para a família, não taxando ou estigmatizando, mas sim, tratando-a como ela é: por vezes, lar de infortúnios, frustrações e conflitos, e, em outras, único ninho para o qual, pássaros desgarrados precisam voltar em busca de redenção.

*http://boasaude.uol.com.br/lib/ShowDoc.cfm?LibDocID=3985&ReturnCatID=1800

2 comentários:

  1. Olá, Celo!
    Lendo seu texto lembrei de duas obras artísticas.

    1ª Os silêncios constrangedores: recordei do ótimo "Caminho sem Volta", de James Gray;

    2ª Família disfuncional e a "ovelha desgarrada (negra)": liguei ao arrebatador "O Apanhador no Campo de Centeio", do escritor "bicho do mato" J. D. Salinger.


    Entrou na listagem das próximas aventuras cinematográficas.

    Abraçosssss

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  2. Pretendo ver o filme logo Celo, assim poderei opinar melhor quanto a seu texto! Mas me interessei mais ainda por poder entender melhor as faces da tal 'família disfuncional'. Enquanto as 'famílias felizes se parecem', as tristes não tem nada semelhante entre si, ou algo assim. hehe

    Abraços caro amigo!

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