domingo, 15 de fevereiro de 2009

Fazer um Filme

Fazer um filme. Do início, quando parecia idéia, um tanto quanto, estapafúrdia, até agora, quando encerramos as filmagens, muita coisa aconteceu. Quando isto se tornou claro para mim, que poderia fazer um filme, convidei pessoas muito queridas e talentosas para ajudar a tocar o projeto. Chamei o Rafa para escrever o roteiro comigo, afinal ele é especialmente talentoso com as palavras, e convoquei o Kon para dirigi-lo em conjunto, afinal ele é um cinéfilo voraz e sua visão me pareceu complementar à minha, algo que, sem dúvida, enriqueceria o projeto. Da escrita, lembro-me, claramente, de ser, particularmente, regado pelas palavras de Kafka (eu estava lendo O Processo durante o desenvolvimento do roteiro). Cada vez que eu lia um capítulo, me dava uma vontade louca de sentar na frente do computador e escrever um pouco mais. Ainda bem. Tivemos algumas divergências quanto a história, quanto ao nome do curta, mas, no final, quando nos demos conta, já tínhamos criando um projeto, envolvido um monte de gente bacana, e lá estávamos nós, sendo avaliados pelo poder público para saber se tínhamos qualidade suficiente para estrearmos no cinema. Passamos, tivemos o roteiro elogiado e, de lá para cá, lidamos com números, RPA’s, cópias de cheques, tudo aquilo que devemos dominar para lidar com o dinheiro do povo. Nos últimos meses, também sentimos na pele o trabalho desgastante de um produtor, afinal corremos atrás de tudo, conciliando com nossos trabalhos regulares, sem perdermos a cabeça ou esmorecermos.

Partimos, então, para a parte artística da coisa. Tivemos um ensaio, que se mostrou bem proveitoso no sentido de passar aos atores a visão que tínhamos dos personagens. Não queríamos perder o foco, por mais que déssemos liberdade aos atores para sugestões e outras contribuições, que foram feitas, sem dúvida. E o dia chegou. No sábado chegamos cedo ao apartamento e demos os últimos retoques. Os atores foram chegando, a equipe veio logo após e, depois de quase uma hora ajustando a luz e posicionando a câmera, coube a mim gritar o primeiro “AÇÃO”. Foi um dia ótimo, muito produtivo, vendo pelo lado profissional, e muito divertido pelo lado pessoal, já que tínhamos uma equipe que nos respeitava muito, que nos ajudava muito e que era, além de tudo isto, legal e bem humorada. O segundo dia foi, a meu ver, mais tranqüilo ainda. Trabalhávamos com locações mais amplas, com mais liberdade de movimentos e, no final das contas, o roteiro foi preservado em mais de 90%, retirando-se, apenas, seguimentos que notamos irrelevantes para a história. Confesso que, no domingo à noite, próximo das oito horas, quando fizemos a última tomada, me bateu certa melancolia. Pensei em como a experiência foi magnífica e em como voltar ao meu trabalho regular seria um pouco doloroso. E realmente foi. Na toada das confissões, digo que meu trabalho como estagiário de RP perdeu um pouco da graça, da importância. Quem sabe um dia eu não possa viver disto, de fazer filmes e lidar com o meu imaginário e o dos espectadores em tempo integral? Só o tempo dirá.

Famílias Felizes se Parecem está em pós-produção e deve demorar um pouco ainda para estrear. Estou louco para ver ele pronto e, por mais que uma pontinha de medo de ter falhado surja, a vontade de conferir o resultado de nosso trabalho, é maior e mais latente. Gostaria de, agora que acabamos de filmar, agradecer à todos que fizeram isto possível, à todos que, por pura amizade e camaradagem, nos ajudaram a realizar um sonho. Obrigado aos figurantes que foram pacientes, aos atores principais que se mostraram extremamente flexíveis ao serem dirigidos por dois iniciantes, ao pessoal da SPA que nos deu um apoio imenso, enfim, à todos que, de alguma forma, nos auxiliaram no início de um caminho que será longo, nós esperamos. Aguardem, Famílias Felizes se Parecem, em breve, num cinema perto de você.

2 comentários:

  1. Olá, Celo!
    Sem dúvida algo único. Ver seu material escrito ganhando vida e passando a existir de fato, ao menos da maneira mais próxima da realidade possível. Munido de sinceridade, espero que seja longa nossa jornada por tal caminho, mesmo que nem sempre margeado por belas flores.

    Abraçosss

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  2. Difícil escrever sobre as vivências e diversos sentimentos experimentados por mim em todos os momentos do já tão querido 'Famílias Felizes se Parecem'. Querido por mim, e sei que por você e pelo Rafa também, mas digo isso pois não consigo deixar de gostar desse nosso projeto em nada.

    Espero ansioso pelas próximas etapas, por concluir este filme que vem nos ocupando tempo e diversos pensamentos... E por mais complicado que alguns momentos possam ter sido, por mais atarefados que estivemos por todo esse tempo, nada substituirá a grande sensação em poder dizer que 'fizemos nosso filme'!

    Abraços, amigo diretor! :)

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