sábado, 22 de agosto de 2009

Cinema? Futuro?

James Cameron é mesmo um homem visionário, um tipo estranho numa indústria como a de Hollywood na qual, geralmente, separamos em guetos os chamados "diretores autores", evitando que eles tenham contato, pelo menos em nossas cabeças, com os chamados “diretores comerciais”. Cameron é um “tipo estranho”, pois todos sabem de sua vocação para o entretenimento, para o desenvolvimento de novas tecnologias de captação de imagens e, ainda assim, não há como negar a qualidade dele como contador de histórias, como diretor de filmes que, se não são unanimidade crítica, transitam bem entre o puro entretenimento e a relevância artística. Eu sei, nem todo mundo gosta de O Exterminador do Futuro e Titanic, só para citar duas de suas obras mais famosas. Porém, não há como negar suas importâncias para a história do cinema: o primeiro pela abordagem de um futuro apocalíptico, com a utilização de efeitos especiais nunca antes vistos, e o segundo por deter o recorde de bilheteria, de todos os tempos. Ambos são filmes comerciais, mas são ótimos exemplares de cinema também.

Pois bem, desde os idos anos de 1997, quando lançou Titanic, Cameron não apresentou filme algum. Estaria ele satisfeito com a montanha de dinheiro que ganhou com a história de Jack e Rose? Por certo sim, quem não estaria? Satisfeito sim, mas não acomodado. Nestes anos o diretor veio aperfeiçoando uma tecnologia que, segundo ele, iria causar outra revolução no cinema, tal qual a proporcionada por O Exterminador do Futuro. Esta tão alardeada tecnologia está a serviço de Avatar, o projeto no qual Cameron trabalhou nestes doze anos e que chega, cercado de muitas expectativas, no final deste ano aos cinemas americanos. Dizem que esta nova tecnologia engloba desde um significativo melhoramento da experiência 3D, passando por câmeras que proporcionam ao diretor uma interação em tempo real (durante a filmagem) entre cenários digitais e atores, indo até um aperfeiçoamento da técnica de motion capture, ou captura de movimentos, aquela em que um ator é revestido de eletrodos e “interpreta” as cenas, para depois ser inteiramente, ou em partes, reconstruído em processos digitais/artificiais.

Com custo aproximado de 300 milhões de dólares, Avatar vem sendo objeto de uma campanha massiva de marketing (é claro, o objetivo é recuperar e multiplicar dinheiro). Então, depois de doze anos de espera, chega à internet o primeiro teaser trailer de Avatar, e toda esta introdução é para que eu possa contextualizar e comentá-lo. Primeiramente, as imagens são maravilhosas, mostram um mundo criado artificialmente, mas que parece cada vez mais real. Os personagens gerados pela motion capture de Cameron são incrivelmente expressivos, o que, aparentemente, também deve significar um considerável ganho de qualidade desta técnica. É isso que tenho a falar do trailer de Avatar, só. A julgar pela amostra, a técnica é a vedete do filme, já que sabemos pouco ou quase nada da história. Dá a impressão de que é mais um excelente trabalho da Pixar. E fico ainda me perguntando: não teria sido melhor construir Avatar como uma animação? Para que os atores? Pode ser precipitado de minha parte e, num futuro próximo, pode ser que vocês leiam uma resenha elogiosa ao filme aqui no blog, eu sei. Mas queria comentar sobre minha primeira e crua impressão a respeito do que Avatar pode ser, um passo para novos tempos. Preocupam-me estes tempos em que uma boa atuação pode ser subjugada por criaturas feitas totalmente nos computadores das empresas de efeitos especiais. Este temor se reforçou quando li, no site Omelete, matéria referente à presença de Cameron e Peter Jackson na última Comic Con, quando Cameron disse: "...os atores não têm de ficar preocupados. Eles têm é de saber mais sobre essa tecnologia. Ela não os substitui, mas dá mais poder a eles. Agora, eles não precisam mais ficar horas fazendo maquiagem e as suas expressões estão ainda mais visíveis. Por isso não gosto de chamar de captura de movimento, mas sim de captura de performance, pois pega todas as expressões do corpo e rosto. Atuar não é só se mover, é mostrar emoção. Hoje em dia é possível capturar 100% do que o ator está fazendo. Com essa tecnologia, uma atriz pode fazer o papel de um ator, um menino de 24 anos pode fazer um velho de 95 e vice-versa. Will Smith vai poder fazer um filme de ação aos 75 anos e com a aparência que ele tem hoje, se ele quiser. Mas não acho que seria legal ter um filme da Marilyn Monroe porque não é mais ela atuando. Mas se Clint Eastwood quiser fazer um novo Dirty Harry, eu com certeza iria ver..."

Eu também Sr. Cameron, adoraria ver Clint Eastwood ainda por muitos e muitos anos no cinema, desde que se mantenham as rugas que o tempo lapidou em seu rosto e a verdade que somente uma atuação real pode passar. Sou extremamente a favor da tecnologia, do uso inventivo que alguns diretores fazem dela para contar histórias, que antes não poderiam, como em O Senhor dos Anéis ou em O Curioso Caso de Benjamin Button. Sou contra a centralização do processo na tecnologia, em expedientes que, de alguma maneira, descaracterizam esta centenária arte. Estes híbridos entre animação e cinema, salvo raras exceções, me parecem uma tentativa de deslocar para a forma a importância do conteúdo. Se estes são os tempos do vindouro cinema, em que atores e diretores se renderão ao artificialismo canalha como norteador de suas produções, fico feliz que ainda existam os clássicos e que possamos olhar para trás e ver do que realmente é feito o cinema. Abaixo, o teaser trailer de Avatar.

2 comentários:

  1. Olá, Celo!
    Compartilho de sua opinião, acerca do futuro cinematográfico delineado nos últimos anos. Essa onda 3D, efeitos especiais arrebatadores, tendem a captar os sentidos mais superficiais do homem, o que cruelmente reduz o cinema de arte a mero entretenimento, um brinquedo a mais no parque de diversões.
    A tecnologia tem de ser instrumento, e não fim em si. Torço para que "Avatar" siga minha linha de pensamento.

    Abraçosss

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  2. Celo!

    Não sei por onde começar, tive hoje uma conversa com o Rafa sobre essas questões levantantadas em seu texto, tão pontuais e pertinentes, e posso dizer apenas concordo contigo em totalidade. Acredito que nós dividimos a opinião que, sumarizando em uma frase tudo o que eu poderia dizer sobre o assunto, isso geraria um excelente vídeogame, mas cinema mesmo é outra coisa. Estão esquecendo o significado dessa arte para privilegiar tecnologia e não técnica, deixando de lado o viés cultural do cinema para privilegiar sim uma industria cultural.

    Enfim caro amigo cinéfilo, tenho apenas a elogiar seu texto e a iniciativa pela temática da análise, já que fugimos pouco das críticas, e temer cada vez mais que o cinema como conhecemos hoje mude tanto a ponto de não mais reconhecê-lo.

    Um grande abraço.

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