domingo, 14 de março de 2010

La envidia de los hermanos


No momento em que Pedro Almodóvar e Quentin Tarantino entregaram o Oscar de melhor filme estrangeiro ao argentino O Segredo dos Seus Olhos, de Juan José Campanella, me veio à cabeça um questionamento, que não deixa de ser uma comparação: porque o cinema brasileiro não ganha um Oscar? Não vou entrar no mérito da importância do prêmio, principalmente, pois alguns que lerão este texto não creem na importância do Brasil ser portador de tal láurea. Até porque, diz a história, que quando ganhamos a Palma de Ouro de Cannes, que eu considero o mais importante prêmio do cinema mundial, com O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte, muitos questionaram, colocaram em xeque os méritos do filme, apoiaram, principalmente, os cinemanovistas que viam Anselmo e sua obra com ressalvas preconceituosas. Sendo assim, acredito que mesmo que ganhássemos todos os prêmios da temporada com algum filme, ainda assim algum espírito-de-porco se faria presente com sua voz bradando por “justiça”, contra o produto nacional. Não se trata aqui também de assumir uma postura nacionalista, fechando os olhos para nossas próprias fragilidades, mas de começar o pensamento por entender que tem gente que, não por maldade ou algo que o valha, não vê o cinema de seu país com bons olhos.

Dito isto, poderíamos ficar aqui tentando, numa comparação que mereceria um estudo bem mais aprofundado, entender o sucesso do cinema argentino, enquanto o Brasil busca uma identidade cinematográfica. Não é o Oscar de Campanella que traz à tona esta questão, mas a profusão significativa de bons, ótimos ou mesmo excelentes filmes argentinos lançados nos últimos anos, em comparação com o cinema verde-amarelo, que não sabe se vira televisão em tela gigante e som surrond ou se abraça a segmentação em guetos, cada vez mais diminutos, como faceta principal. Com a tristeza de um grande fã do cinema brasileiro como sou, preciso engrossar o coro e parabenizar a safra do cinema argentino, que em termos de diversidade, resposta comercial e política de formação de público, ganha do Brasil de goleada. É só a comparação que me chateia, afinal de contas queria ver todas as cinematografias latino-americanas fortes, cheias de talentos, de bons filmes, de filmes comerciais menos bestializantes, mas isto só parece ocorrer menos esporadicamente nas terras dos hermanos, já que no Brasil, infelizmente, dependemos de esparsos filmes dignos do cinema que fazíamos décadas atrás e de sua significância artística. A tristeza vem da inveja e, paradoxalmente, acompanhada da alegria de ter no cinema argentino uma espécie de voz latina, com filmes cada vez melhores, diretores sensíveis e gente que sabe contar histórias, das mais distintas maneiras. Nem tudo está perdido no Brasil, mas num país de dimensões continentais como o nosso, termos 10, quisá 20% de filmes bons e/ou artisticamente relevantes num ano é pouco, muito pouco.

Dica: Para quem, assim como eu, além de gostar do cinema brasileiro acredita que ele encontrará seu rumo, não deixe de acompanhar o blog O Palhaço, sobre as filmagens do segundo projeto de Selton Mello como diretor. A julgar pela estreia maravilhosa de Selton em Feliz Natal, pela premissa interessantíssima, e pelo fato de ele neste aqui dividir a cena com o grande Paulo José, podemos esperar que venha coisa muito boa por aí.

2 comentários:

  1. Olá, Celo!
    Tens razão, o cinema brasileiro, em sua diminuta produção atual, demonstra alto teor de bestialidade. Penosamente, poucas as produções se safam de uma safra tão miserável. Quanto ao Oscar para um filme tupiniqim, enquanto nossa política não for séria na escolha da película a nos representar, nos restará palmas aos hermanos.
    Ah, fiquei animadíssimo com esse novo projeto do Selton Mello. Paulo José é fantástico.


    Abraçosss

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  2. Fico feliz com a presente situação: o Oscar para a Argentina (o segundo, por sinal), vale para deixar a comissão brasileira que seleciona o filme para o Oscar mais atenta. Talvez os participantes parem de indicar o mesmo cinema e dê atenção para obras de maior significância. Ou o país está tentando demonstrar com essa safra de produções homogêneas um novo movimento a ser notado pelos estrangeiros? Espero que não, já que a tentativa seria extremamente pífia.

    Abraços Celo!

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