sábado, 3 de dezembro de 2011

Estrangeiro em Meu País


O mote de Meu País, longa-metragem de estreia do diretor André Ristum, não é propriamente novo ou merecedor de relevo pela originalidade: homem volta à terra de origem para sepultar um ente querido, neste caso o pai, retomando então o contato com suas raízes, aproximando-se do que era para então descobrir-se. É bom que não se entenda a originalidade da trama como pressuposto de filme bom ou ruim. Então, aos que clamam por algo novo a cada experiência, recomendo olhar retrospectivo mais atento às semelhanças fabulares que tornam parentes até mesmo incontestes obras-primas. 

Pois bem, Rodrigo Santoro interpreta Marcos, o homem que volta ao seu país para enterrar o pai, e desenterrar (perdoem-me a troça lingüística) uma série de elementos que remetem à sua infância, principalmente o dito pai, aparentemente ausente, a quem chama pelo nome próprio, e o irmão inconseqüente que promete levar a empresa da família à bancarrota pelo vício em jogos de azar. Marcos é estrangeiro no próprio país, um alheio na casa que guarda suas coisas de menino. Sua esposa, uma bela italiana, fica fascinada ao contemplar as imagens familiares do marido, a quem parece conhecer de todo naquele momento. Bela cena, aliás, como também aquela em que os irmãos descobrem o testamento afetivo do pai, impresso num vídeo feito com máquina fotográfica. Difícil conter o marejar dos olhos, semelhante às lágrimas que teimam em brotar no racional Marcos, num dos raros momentos em que ele se entrega à emoção. 

Não há, porém, qualquer intenção de Meu País ser um filme tipo “acerto de contas”, como tantos por aí. Não se trata, também, de manifestar a construção do homem por base naquilo que vivencia enquanto criança. Não obstante, esta ótima estreia de Ristum é feita muito mais de silêncios e sugestões, do que propriamente de palavras e quaisquer rompantes emocionais, mesmo quando insere a irmã bastarda com deficiência intelectual na relação tempestuosa dos dois irmãos. Há os que objetam o isolamento dos personagens, órfãos de uma contextualização social. Não creio ser isto um problema, ainda mais quando se entende Meu País como uma obra voltada aos seres, na qual os entornos apenas os refletem, e bem, é bom que se frise. 

André Ristum demonstra as inconstâncias diretivas naturais de um primeiro trabalho em longa-metragem, mas nada que mine substancialmente o desenrolar de seu drama familiar, aliás, muito bem conduzido. O  não-pertencimento sentido pelo personagem de Santoro o choca contra um país que teima em mantê-lo, seja para que resolva os problemas do irmão (em outra atuação interessante de Cauã Reymond), ou mesmo pela súbita necessidade de cuidar da frágil irmã (construída sobriamente por Débora Falabela). Ao diretor cabe sugerir mais que dizer, confiar plenamente no elenco ao colar a câmera nas expressões, e jogar na tela seu imaginário, que se em pouco reflete socialmente o Brasil (e por que deveria?), certamente espelha o que de mais angustiante habita em seus personagens.

Um comentário:

  1. Olá, Celo!
    E mais um ponto para a Sala de Cinema Ulysses Geremia.

    Abraçossss

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