sábado, 14 de abril de 2012

Inocente ou culpado?


O cinema contemporâneo dinamarquês é rapidamente associado a Lars Von Trier, Thomas Vinterberg, Susanne Bier e toda a trupe que questionou a sétima arte com o manifesto Dogma 95. No entanto, uma vertente ainda mais recente de realizadores vem fazendo proveito dos muitos incentivos que o país oferece à produção cinematográfica e constantemente se destaca entre a programação de festivais e mostras ao redor do mundo. 

Sem pensar muito sobre a categoria supracitada, posso citar Annette K. Olsen (e seu excepcional Pequeno Soldado), o sucesso internacional da trilogia Millenium nas mãos de Niels Arden Oplev e Nicolas Winding Refn, que tem no currículo Drive e a igualmente cultuada trilogia Pusher. A partir de agora posso encaixar no mesmo grupo Jacob Thuesen, nome que desconhecia até que, num acaso de sorte, tive o primeiro contato com seu cinema por meio de Acusado, suspense que em 2005 concorreu ao Urso de Ouro em Berlim. 

Thuesen, que curiosamente desenvolve inúmeros trabalhos como montador, já havia dirigido curtas e documentários, sendo Acusado seu primeiro longa-metragem. O suspense dramático explora um período crítico na vida do casal Henrik e Nina, que possuem uma complicada relação com sua filha adolescente, Stine. A vida do trio fica ainda mais complexa quando a menina acusa o pai de abuso sexual em algumas ocasiões.


Antes mesmo do argumento central do filme se tornar compreensível, a fotografia de Sebastian Blenkov se faz notar com um duro jogo de luz e sombra que muitas vezes sequer revela as expressões dos atores. O que pode causar incômodo no início revela-se pactual à maneira comedida com que Thuesen apresenta seus personagens, em especial Henrik – que passa a sofrer as consequências da acusação em um rígido sistema legislativo e penitenciário. Mesmo que o intrigante roteiro de Kim Fupz Aakeson pressuponha a inocência de Henrik, sua face poucas vezes revelada pela fotografia de Blenkov se une a ótima interpretação de Troels Lyby para criar uma atmosfera ambígua acerca de seu personagem, onde é difícil poder afirmar qualquer coisa.

Enquanto o modelo narrativo whodunit? apresenta uma história na qual o principal mistério é descobrir quem é o culpado, Aakeson demora, mas afirma seu roteiro sobre um artifício que poderia ser intitulado hedunit?, onde a questão central está em conhecer a culpa ou inocência de seu protagonista. Tal questionamento, felizmente, dá espaço para o desenvolvimento da trama, que se aprofunda com uma série de problematizações advindas da acusação de Stine, que gradualmente mina e transforma em caos a vida de seus pais. 

Ainda que cometa alguns deslizes em sua resolução, Acusado tem um fechamento bastante climático e refinado, sem os excessos que um cineasta mais descuidado poderia causar em um filme de tema tão delicado. Fica a expectativa de que Jacob Thuesen deixe as moviolas – ou o que quer que as tenha substituído numa sala de edição – para se dedicar mais vezes à direção e às câmeras que ele parece orquestrar tão bem. 

2 comentários:

  1. Opa Kon,

    Como são gratas estas surpresa que o acaso proporciona, nos encontros inusitados com diretores que, muitas vezes, passam ao largo até mesmo do cinéfilo mais antenado. Por certo, às vezes também depara-se com filmes insignificantes, mas bom é constatar que, de uma forma ou outra, há muito ainda a explorar.

    Abração

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  2. Olá, Kon!
    Muito bom seu texto, Kon.
    Gostei também do link sobre o cinema dinamarquês. Realmente, sem incentivo governamental à arte, as dificuldades são potencializadas.

    Abraçosssss

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