quarta-feira, 18 de abril de 2012

Martha Marcy May Marlene


Um dos destaques indies da atual temporada, Martha Marcy May Marlene é ambientado de tal maneira longe dos cenários americanos mais tipificados, que logo permite ao espectador a benéfica constatação da pluralidade geográfica estadunidense, esta pouco perseguida pela maioria de seus conterrâneos. A trama começa no escape da protagonista (Martha) de um lugarejo interiorano, onde há ajuntamento semelhante a uma comunidade de fanáticos religiosos. Patrick, o mestre, por assim dizer, é homem austero que alterna momentos de acolhida e instantes de violência. Todos os seguem cegamente. As mulheres só comem depois dos homens, e eles só copulam com elas após o “batismo” do grão-mestre. Martha escapa, então, para os braços da irmã, mas vê-se assombrada por lembranças que, pouco a pouco, embaralham sua percepção de segurança, tornando-a arredia, instável e um tanto paranoica.

Martha Marcy May Marlene começa promissor, pois cerca de mistérios a vida pregressa de Martha, descortina lentamente seu envolvimento com as normas da “seita” (dentre as principais, consentir-se estuprada e lidar diretamente com a morte), em alternância à exposição da intricada adequação por ela experienciada no retorno ao seio familiar. Hão de ser enaltecidas, ainda, a construção narrativa baseada na ausência de informações “mastigadas”, e a esperta montagem do vai-e-vem temporal, cuja função sintática, em muitas passagens, realça o desmoronamento mental de Martha. Infelizmente, o interesse arrefece na medida em que a trama avança, pois privilegiadas as investigações da personalidade caótica e do estado psicológico ambíguo da figura central, não restam espaços satisfatórios nem para qualquer estudo mais profundo sobre a vivência pretérita na comunidade e muito menos a subtextos igualmente nuançados acerca da família que a irmã e o cunhado workaholic querem formar.

Destacam-se - antes que o esquecimento não permita -, os desempenhos de Elizabeth Olsen, como Martha (talento nato e deveras promissor) e de John Hawkes, na pele de Patrick, (ele, excelente ator cuja capacidade não foi plenamente descoberta pelo grande público). Ambos são figuras proeminentes nesse longa mediano sobre alguém fracionado e psicologicamente abalado que não encontra seu lugar. Ainda que não faça feio, Martha Marcy May Marlene está longe de qualquer voo mais libertador, talvez porque seja demasiado ligado às conseqüências, e um tantinho negligente quanto às causas.


Publicado originalmente no Papo de Cinema

2 comentários:

  1. Olá, Celo!
    Obrigado por mais um texto.

    Abraçosss

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  2. Já conversamos muito sobre o filme, Celo, e se não me engano fui um dos entusiastas que insistiu para que você o assistisse. O considero um dos suspenses mais interessantes que vi recentemente, com um clima excelente.

    Um abraço, guri!

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