domingo, 19 de agosto de 2012

Batman – O Retorno


A assinatura do diretor Tim Burton surge logo no início de Batman – O Retorno. Afeito a tipos estranhos, gente posta à margem – seja por particularidades físicas ou mesmo comportamentos fora do “normal”, o regente dessa segunda incursão do Homem-Morcego pelas telonas, não por acaso, parte da construção do antagonista. Nascido diferente, irascível, Pinguim fora largado à própria sorte num esgoto fétido por pais burgueses, incapazes de conviver com as idiossincrasias de seu primogênito, que, então, cresceu em meio aos dejetos de Gothan City, nutrido de raiva e um bom tanto de carência. Tim Burton parece deliciar-se legando ao bizarro vilão o papel de destaque.

Verdade seja dita, em Batman – O Retorno o herói é um coadjuvante de luxo, pois sutilmente (ou não tão assim) escanteado ante a proposta de investigação diretiva, muito mais preocupada com a dualidade dos vilões. O Batman encarnado por Michael Keaton é apenas uma antítese decorativa da desordem surgida para, paradoxalmente, purificar a cidade atolada em sujeira e gente corrupta. Pena as escolhas de Burton, potenciais alavancas, perderem força e esgotarem-se prematuramente. Que interessante caminho mostrar um homem (o empresário Max Shreck), dotado “apenas” de ganância e inteligência, controlando bandidos, a priori, incontroláveis. É claro, não fosse percorrido com tanta preguiça, entrecortado por um tipo de humor muitas vezes anêmico, aliás, presente em todo filme.

Batman – O Retorno remete a algumas das temáticas prediletas de Tim Burton e, infelizmente, também aos seus momentos menos inspirados. Tudo é muito falso: os cenários, as interpretações, e a própria encenação que poucas vezes transcende a observação satírica das coisas. Burton sai-se melhor quando estabelece contrapontos. Batman – O Retorno é, ainda, versão jogada dos quadrinhos para as telas, sem muito senso de adaptação ou respeito às diferenças entre os meios. Claro, é proposital, mas não dá liga.

Por certo Batman – O Retorno guarda lá seu charme, e muito dele vem da deliciosa Mulher-Gato de Michele Pfeiffer e do inesquecível Pinguim defendido por Danny DeVito. Além disso, não dá para negar láureas a Tim Burton por sua fidelidade estilística, aqui certamente presente de maneira diluída, porém não tão imperceptível assim. Numa Gothan City essencialmente fake, filmada em estúdio, repleta de situações ligeiras e resvalões em assuntos que se melhor abordados confeririam profundidade ao espectro narrativo, nada mais natural a resultante ser mero entretenimento, divertido e agradável, porém, inofensivo.


Publicado originalmente no Papo de Cinema

2 comentários:

  1. Olá, Celo!

    Interessante ler um texto sobre este Batman tendo visto o filme há tanto tempo... Pouco permaneceu em minha memória além do bizarro Danny DeVito e do "Meow" da Michele Pfeiffer, incrivelmente linda.

    Não sei se voltarei a incursionar pelos filmes da série anteriores ao Nolan... Quem sabe um dia!

    Grande abraço!!

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  2. Celo!
    Esse filme tem cheiro de infância e "Tela Quente". Mas, fora a nostalgia, enquanto obra cinematográfica, creio que compartilharia de sua visão se o assistisse novamente.

    Grande abraço.

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