quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Violência Gratuita



No inglês, a palavra knuckle nomina as articulações dos dedos. No filme do irlandês Ian Palmer, knuckles são as juntas das mãos destruídas de homens que travam guerras familiares durante gerações e resolvem conflitos com uma espécie brutal e bastante particular de luta de rua. Já seria um tema forte para uma ficção, mas Knuckle é um documentário visceral que acompanha de perto 12 anos das batalhas de três clãs rivais: Quinn McDonaghs, Joyces e Nevins.

Palmer passou a acompanhar de perto os lutadores a partir de um convite para filmar um duelo de James Quinn McDonagh, que se torna o protagonista do filme. O início das disputas entre as famílias se deu em 1960 e se intensificou em outras ocasiões – com o maior incentivo num acidente em que um Quinn McDonagh matou um Joyce em uma briga de bar. Desde então, opositores confessos, os clãs passaram a se provocar ao longo de anos e a travar lutas de rua ilegais com regras próprias, nas quais não fazem uso de luvas ou quaisquer protetores – e que só terminam quando um dos lados desiste. 

Com os registros captados por Ian Palmer, seja nas lutas, entrevistas ou nos vídeos de arquivo das famílias, cria-se uma atmosfera documental bastante singular. Fazendo uso de uma estética crua e sem muitos artifícios, Palmer entrega um retrato bizarro e às vezes surreal repleto de personagens intrigantes, oprimidos pela tradição de sua linhagem. O resultado final de Knuckle é um improvável encontro entre Shakespeare e Guy Ritchie, chocante até mesmo para os menos impressionáveis, numa obra que cria diversos questionamentos sobre os limites da tradição familiar e da violência como resposta para a solução de diferenças.


3 comentários:

  1. Kon, já estava com saudades dos teus textos.

    Não conhecia "Knuckle", mas a partir de sua crítica me senti muito instigado a conferir. O mote é muito insólito, e a resultante cinematográfica deve seguir o mesmo caminho.


    Abraços

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  2. Me pareceu aquele tipo de filme: soco no estômago!!! seco,denso e pelo seu comentário rico em argumentos,o que não alivia em nada, esse estilo mais duro! Deve ser muito bom Conrado!
    beijos,
    Carol

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  3. Olá, Kon!
    Infelizmente, exemplos onde uma tradição obsoleta esmaga os homens que apenas a seguem são inúmeros. Lembrei-me do extraordinário "Abril Despedaçado".

    Até mais.

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