domingo, 12 de maio de 2013

Killer Joe – Matador de Aluguel


O conceito “família disfuncional” adquire contornos de crueldade em Killer Joe – Matador de Aluguel, o mais recente filme de William Friedkin, diretor de, entre outros, O Exorcista. Nele topamos com Chris, rapaz que resolve lançar mão de um expediente quase inumano na busca do dinheiro necessário para quitar sua dívida com traficantes: matar a mãe e apossar-se da apólice cuja beneficiária é Dottie, a irmã mais nova. Para isso, precisa das cumplicidades da bela jovem, do pai e da madrasta. Todos aceitam, sem muitos sinais de remorso ou quaisquer embates internos que inviabilizem o ato iminente. Contratam, então, Joe, policial e matador de aluguel, para dar cabo do serviço.

O plano e o possível assassinato são apenas catalisadores da dinâmica familiar doentia, o verdadeiro substrato de Killer Joe – Matador de Aluguel. O rapaz, que esquematiza a morte da própria mãe para livrar sua pele, conta com a anuência do pai ao passo que é acometido pelo desejo de possuir a quase infantilizada irmã (e o sonho dela se insinuando nua mostra isso). Sem dinheiro nem escrúpulos, Chris irá penhorar também Dottie como salvaguarda dos direitos do homicida, caso algo dê errado e o pagamento em dinheiro não ocorra. Aqui os tipos são cria de um mundo lapidado pelo conceito da sobrevivência a qualquer custo. Esqueça rompantes de heroísmo e nobreza, cada um atuará para satisfazer suas próprias necessidades.

Intenso, Killer Joe – Matador de Aluguel é um filme bastante diverso dos vistos comumente no nosso circuito, justo pelas qualidades apresentadas. É ancorado na narrativa dura que amplifica os eventos da trama, não pressupondo espectadores infantilizados, e no desempenho vibrante do elenco, aliás, duas das marcas registradas de Friedkin, diretor que ajudou a salvar Hollywood noutros tempos. Falando em atuações, Emile Hirsch, Juno Temple e Thomas Haden Church estão ótimos em seus respectivos papeis, mas se alguém rouba a cena é Matthew McConaughey. Sua construção de um Joe ao mesmo tempo frio e explosivo é completamente inexcedível e digna de prêmios.

Convém não analisar as reviravoltas da história - esmiuçá-las traria prejuízo aos que ainda não assistiram, porém pode-se dizer: elas temperam sobremaneira as relações entre os personagens. O criminoso Joe é agente dessa ciranda sórdida, espécie de “anjo exterminador” surgido para expurgar a família de seus pecados, sendo ele próprio pecador confesso. No ato derradeiro, William Friedkin cria sequência digna de antologia com a reunião dos protagonistas numa conversa repleta de representações, sarcasmo, tensão e violência, esta física (bem gráfica) e psicológica. No fim, o fade – out traz angústia porque nos priva do porvir. E agora? As trevas da ignorância são ideais para encerrar um longa fortíssimo como Killer Joe – Matador de Aluguel.


Publicado originalmente no Papo de Cinema

5 comentários:

  1. Percebe-se que gostou mesmo :)
    O pouco de humanidade no filme, quem diria, vem através do Joe!

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  2. E aí, Celo?
    Fico triste, sabe por quê? Mais um filme que consigo perder aqui no Ordovás. ¬¬

    Grande abraço.

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  3. Te agradeço muito por ter insistido que eu assistisse. Independente de qualquer coisa é um filme que merece atenção! E por si só chama atenção, pelo estilo, pela forma como vai se desenvolvendo: duro, realista e daí pra pior no melhor sentido. Segue o seco total hehe.

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  4. Mana - Sim, gostei muito do filme, já na minha lista dos melhores de 2013.

    Rafa - Marcou bobeira, hein!? Mas nada que um bom torrent da vida ou a locação do DVD (acabou de sair, se não me engano) resolvam.

    Carol - Eu é que agradeço por você ter seguido minha indicação, estava curioso para saber sua opinião. E, com certeza, o filme é "segue o seco" total...hehe

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  5. a verdade é que eu vi esse filme e não gosto muito de qualquer maneira eu era capaz de vê-la quando eu viajei, eu espero que eu possa repeti-lo se eu conseguir um Aluguel apartamentos buenos aires

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