segunda-feira, 20 de maio de 2013

Vale a pena ver de novo?




Sexta-feira, dia 17, foi exibido o derradeiro capítulo da novela das nove Salve Jorge, reprisado no sábado. Depois de muita polêmica, torcida fervorosa por Morena & Companhia Ltda, Glória Perez apresentou o desfecho que, como de costume, não agradou a todos.

Pois bem, mas por que afinal o The Tramps dedicaria espaço para abordar a produção da Rede Globo? Simples, bem simples: discutir algo bem complexo. Tentar compreender a influência (positiva x negativa) dessa narrativa tão tradicional em nossa telinha junto ao seu público consumidor. Claro, de maneira breve e sucinta.

O roteiro das telenovelas é previsível, chega  a ser quase cômico. Ele parte de uma matriz, de um molde e, então, constrói personagens tipificados, numa estrutura narrativa já consolidada. Há diversas facetas para explorarmos, mas pretendo apenas apontar algumas delas e promover a reflexão no leitor mais interessado no assunto.

Apesar dos pesares, podemos enxergar nas novelas, sobretudo as da Globo, ângulos bastante positivos. A grande evolução técnica da televisão, bem como a demanda por profissionais capacitados nas mais diversas áreas, contribui, ao menos em tese, à ascensão do cinema. Ganhamos força na dramaturgia, tendo em vista as oportunidades, inclusive financeiras, obtidas pelos nossos intérpretes. Essas produções tornam-se importantes produtos de exportação, quando consumidas de forma expressiva numa dezena de países. Além disso, sugerem temas pertinentes, como tráfico de pessoas, mesmo sob linhas tortas.

Agora, os pesares. Elas hipnotizam, cegam e propagam a superficialidade na leitura. O entretenimento puro e simples é a bola da vez. Depois de um dia conturbado, cheio de problemas e questões ainda pendentes, nada melhor do que relaxar, se deixar levar pela onda mais fraca e manter o cérebro em stand-by. As pessoas interagem com o aparelho, conhecem personagens e criam vínculos afetivos com eles, sabem tudo o que vai acontecer, e acham o máximo quando seus prognósticos e apostas mostram-se certeiros. Isso traz prazer, fornece sensação de competência e mostra que você é esperto, é capaz.

Todo esse quadro, timidamente esboçado acima, engendra os telespectadores em duas perigosas armadilhas complementares: o comodismo e o hábito. O lindo ímpeto da mudança, o qual nos torna seres em pleno movimento e capazes (de fato) de crescer, sofre de anemia crônica. Não sentimos mais com a mesma intensidade, nem com o mesmo prazer. Nosso mundinho fica mais mundinho ainda com o passar dos dias, tal qual um zumbi em busca de carne. Uma busca vazia e estritamente pragmática, sem vida. E hoje tem mais.

Um comentário:

  1. Oi, Rafa

    Muito pertinente a reflexão, sobretudo dada a importância que a telenovela adquiriu ao longo dos anos no Brasil, tornando-se quase um traço cultural nosso.

    Há exemplos pretéritos que mostram a novela como símbolo de entretenimento dotado de alguma inteligência narrativa. Com o passar dos anos, nosso folhetim televisivo foi se tornando cada vez mais anódino e irrelevante, a não ser, como você bem disse, como emplastro para um dia cansativo(quando muito).

    Abraços

    ResponderExcluir