terça-feira, 7 de maio de 2013

Por que investir em cultura?



Fala-se muito sobre investimentos em cultura, geralmente pífios e quase que insignificantes. Boa parte dos críticos às políticas públicas voltadas ao setor defende somas mais volumosas e significantes do Estado. Pois bem, mas por que “gastar” dinheiro em cultura e não em educação, outro segmento alvo de negligência daqueles cuja missão é nos representar?

Toda essa questão veio à tona após assistir à ótima entrevista de Muniz Sodré concedida ano passado ao programa Roda Viva da TV Cultura. Sodré figura entre os mais respeitados intelectuais brasileiros da contemporaneidade, sobretudo quando o assunto é sociologia e/ou comunicação social. Em sua fala, coesa e bastante lúcida, permeiam anos de experiência em sala de aula e, como tema principal, a educação.

Não podemos negar a condição sôfrega de nossa educação, tanto escolar quanto familiar. Limites disciplinares inexistem ou, ao menos, estão presentes como oásis: ora miragens, ora efetivamente reais (momentos cada vez mais raros). Sem uma base sólida, rígida, tudo fica maleável, inclusive caráter e cidadania. Isso vem trazendo há anos gastos exorbitantes em segurança pública e uma verdadeira enxurrada de programas sociais objetivando recuperar e não prevenir a ruptura da ordem necessária ao bom convívio em grupo.

Nesse quadro, incentivos em produção artística e cultural são importantíssimos, na medida em que auxiliam na formação de uma identidade nacional clara, além de propiciar a reinvenção de si mesmo (produtor) e do outro (consumidor/espectador). A expressão cultural desperta, abre brechas, amplia visões, preenche lacunas, coloca em xeque o que cerca o indivíduo e fomenta a reflexão. Povo com poder de reflexão é povo livre, povo que partilha e fortalece a democracia real.

Apesar da arte não escolher condição financeira, raça e grau de instrução, ela é prejudicada quando a população tem porcentagem preocupante de analfabetos funcionais. Educação e cultura, portanto, não devem ser entendidas como excludentes, e sim como complementares. Devem andar juntas, de mãos dadas, feito melhores amigas. Enquanto isso, o Governo adota uma política secular, e que tem lhe rendido milhões de votos Brasil afora: pão e circo. Assim fica difícil, bem difícil.

2 comentários:

  1. Rafa, excelente a questão que você levanta.

    Concordo que Cultura e Educação nunca deveriam se desgrudar, pois áreas complementares na formação humana.

    Enquanto não houverem políticas públicas de incentivo à melhora na Educação, os próprios investimentos em Cultura tendem a beneficiar uma ainda pequena fatia da sociedade.

    Trabalho à longo prazo, mas necessário, sem dúvida.

    abraços

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  2. Muito legal seu texto Rafa!! O Muniz Sodré é fera! Suas aulas na universidade daqui são disputadas. Se um dia eu fizer mestrado ,vou tentar(ousadamente) que ele seja meu orientador.

    bjs

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