Fala-se
muito sobre investimentos em cultura, geralmente pífios e quase que
insignificantes. Boa parte dos críticos às políticas públicas voltadas ao setor
defende somas mais volumosas e significantes do Estado. Pois bem, mas por que
“gastar” dinheiro em cultura e não em educação, outro segmento alvo de
negligência daqueles cuja missão é nos representar?
Toda
essa questão veio à tona após assistir à ótima entrevista de Muniz Sodré
concedida ano passado ao programa Roda Viva da TV Cultura. Sodré figura entre
os mais respeitados intelectuais brasileiros da contemporaneidade, sobretudo
quando o assunto é sociologia e/ou comunicação social. Em sua fala, coesa e
bastante lúcida, permeiam anos de experiência em sala de aula e, como tema
principal, a educação.
Não
podemos negar a condição sôfrega de nossa educação, tanto escolar quanto
familiar. Limites disciplinares inexistem ou, ao menos, estão presentes como
oásis: ora miragens, ora efetivamente reais (momentos cada vez mais raros). Sem
uma base sólida, rígida, tudo fica maleável, inclusive caráter e cidadania.
Isso vem trazendo há anos gastos exorbitantes em segurança pública e uma
verdadeira enxurrada de programas sociais objetivando recuperar e não prevenir
a ruptura da ordem necessária ao bom convívio em grupo.
Nesse
quadro, incentivos em produção artística e cultural são importantíssimos, na
medida em que auxiliam na formação de uma identidade nacional clara, além de
propiciar a reinvenção de si mesmo (produtor) e do outro (consumidor/espectador).
A expressão cultural desperta, abre brechas, amplia visões, preenche lacunas, coloca
em xeque o que cerca o indivíduo e fomenta a reflexão. Povo com poder de
reflexão é povo livre, povo que partilha e fortalece a democracia real.
Apesar
da arte não escolher condição financeira, raça e grau de instrução, ela é
prejudicada quando a população tem porcentagem preocupante de analfabetos
funcionais. Educação e cultura, portanto, não devem ser entendidas como
excludentes, e sim como complementares. Devem andar juntas, de mãos dadas,
feito melhores amigas. Enquanto isso, o Governo adota uma política secular, e
que tem lhe rendido milhões de votos Brasil afora: pão e circo. Assim fica
difícil, bem difícil.
Rafa, excelente a questão que você levanta.
ResponderExcluirConcordo que Cultura e Educação nunca deveriam se desgrudar, pois áreas complementares na formação humana.
Enquanto não houverem políticas públicas de incentivo à melhora na Educação, os próprios investimentos em Cultura tendem a beneficiar uma ainda pequena fatia da sociedade.
Trabalho à longo prazo, mas necessário, sem dúvida.
abraços
Muito legal seu texto Rafa!! O Muniz Sodré é fera! Suas aulas na universidade daqui são disputadas. Se um dia eu fizer mestrado ,vou tentar(ousadamente) que ele seja meu orientador.
ResponderExcluirbjs