O conceito “família disfuncional”
adquire contornos de crueldade em Killer
Joe – Matador de Aluguel, o mais recente filme de William Friedkin, diretor
de, entre outros, O Exorcista. Nele
topamos com Chris, rapaz que resolve lançar mão de um expediente quase inumano na
busca do dinheiro necessário para quitar sua dívida com traficantes: matar a
mãe e apossar-se da apólice cuja beneficiária é Dottie, a irmã mais nova. Para
isso, precisa das cumplicidades da bela jovem, do pai e da madrasta. Todos
aceitam, sem muitos sinais de remorso ou quaisquer embates internos que inviabilizem
o ato iminente. Contratam, então, Joe, policial e matador de aluguel, para dar
cabo do serviço.
O plano e o possível assassinato são
apenas catalisadores da dinâmica familiar doentia, o verdadeiro substrato de Killer Joe – Matador de Aluguel. O rapaz,
que esquematiza a morte da própria mãe para livrar sua pele, conta com a
anuência do pai ao passo que é acometido pelo desejo de possuir a quase
infantilizada irmã (e o sonho dela se insinuando nua mostra isso). Sem dinheiro
nem escrúpulos, Chris irá penhorar também Dottie como salvaguarda dos direitos
do homicida, caso algo dê errado e o pagamento em dinheiro não ocorra. Aqui os
tipos são cria de um mundo lapidado pelo conceito da sobrevivência a qualquer
custo. Esqueça rompantes de heroísmo e nobreza, cada um atuará para satisfazer
suas próprias necessidades.
Intenso, Killer Joe – Matador de Aluguel é um filme bastante diverso dos
vistos comumente no nosso circuito, justo pelas qualidades apresentadas. É
ancorado na narrativa dura que amplifica os eventos da trama, não pressupondo
espectadores infantilizados, e no desempenho vibrante do elenco, aliás, duas
das marcas registradas de Friedkin, diretor que ajudou a salvar Hollywood noutros
tempos. Falando em atuações, Emile Hirsch, Juno Temple e Thomas Haden Church estão
ótimos em seus respectivos papeis, mas se alguém rouba a cena é Matthew
McConaughey. Sua construção de um Joe ao mesmo tempo frio e explosivo é
completamente inexcedível e digna de prêmios.
Convém não analisar as
reviravoltas da história - esmiuçá-las traria prejuízo aos que ainda não assistiram, porém pode-se dizer: elas temperam
sobremaneira as relações entre os personagens. O criminoso Joe é agente dessa
ciranda sórdida, espécie de “anjo exterminador” surgido para expurgar a família
de seus pecados, sendo ele próprio pecador confesso. No ato derradeiro, William
Friedkin cria sequência digna de antologia com a reunião dos protagonistas numa
conversa repleta de representações, sarcasmo, tensão e violência, esta física
(bem gráfica) e psicológica. No fim, o fade
– out traz angústia porque nos priva do porvir. E agora? As trevas da
ignorância são ideais para encerrar um longa fortíssimo como Killer Joe – Matador de Aluguel.
Publicado originalmente no Papo de Cinema
Percebe-se que gostou mesmo :)
ResponderExcluirO pouco de humanidade no filme, quem diria, vem através do Joe!
E aí, Celo?
ResponderExcluirFico triste, sabe por quê? Mais um filme que consigo perder aqui no Ordovás. ¬¬
Grande abraço.
Te agradeço muito por ter insistido que eu assistisse. Independente de qualquer coisa é um filme que merece atenção! E por si só chama atenção, pelo estilo, pela forma como vai se desenvolvendo: duro, realista e daí pra pior no melhor sentido. Segue o seco total hehe.
ResponderExcluirMana - Sim, gostei muito do filme, já na minha lista dos melhores de 2013.
ResponderExcluirRafa - Marcou bobeira, hein!? Mas nada que um bom torrent da vida ou a locação do DVD (acabou de sair, se não me engano) resolvam.
Carol - Eu é que agradeço por você ter seguido minha indicação, estava curioso para saber sua opinião. E, com certeza, o filme é "segue o seco" total...hehe
a verdade é que eu vi esse filme e não gosto muito de qualquer maneira eu era capaz de vê-la quando eu viajei, eu espero que eu possa repeti-lo se eu conseguir um Aluguel apartamentos buenos aires
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