sábado, 15 de dezembro de 2012

Moonrise Kingdom


O mais novo filme de Wes Anderson incumbiu-se de abrir o prestigiado Festival de Cannes deste ano. A honra, sem dúvida, veio coroar a interessante carreira desse diretor de estilo facilmente reconhecível, sobretudo pela maneira como estrutura a narrativa e também por meio dos personagens que cria. Assim sendo, são necessários apenas fragmentos de contemplação para saber-se diante de algo com a grife “Wes Anderson”, artista responsável por Os Excêntricos Tenenbaums, Viagem a Darjeeling, O Fantástico Sr. Raposo,  entre outros. Há, em semelhante proporção, defensores e detratores dos tipos e situações inusitadas que povoam obra tão sui generis.

Em Moonrise Kingdom, uma fictícia ilha na costa da Nova Inglaterra é abalada pelo desaparecimento de dois pré-adolescentes. Toda sociedade local se mobiliza pelo resgate, desde o policial interpretado por Buce Willis, passando pelo chefe de escoteiros vivido por Edward Norton, chegando ao casal de advogados defendidos por Bill Murray e Frances McDormand. Entram também nessa caçada, a brigada escoteira e, ainda, uma agente forasteira do serviço social (Tilda Swinton). Noutro extremo, os fujões (Sam e Suzy) aproveitam o afeto como ignição de crescimento. É bonito ver o périplo dos pequenos amantes através da mata, ele utilizando técnicas de escotismo e ela os “poderes” da visão estendida pelo binóculo, ambos fugindo de realidades desestimulantes e meios excludentes.

Por trás de todo o colorido (a fotografia enfatiza tons de verde), dos personagens cartunescos e da progressão marcada pelo artificial, há uma série de articulações que amparam o filme, evitando sua queda na zona da simples observação do esquisito. Exemplo disso é a crítica embutida no comportamento dos pré-adolescentes de idade mental (ou emocional) superior a dos adultos um tanto infantiloides. São impagáveis as cenas dos meninos conversando num tom quase solene, assim como aquela em que Sam e Suzy descobrem o corpo um do outro, entre apalpes e ereções. Servem como contraponto, a retidão posada do chefe dos escoteiros, e a, no mínimo tresloucada, dinâmica matrimonial dos advogados.

Se há algo que deponha contra Moonrise Kingdom é a pouca ressonância do núcleo adulto, principalmente se levarmos em conta seu time estrelado. A estrutura do roteiro lega a atores como Murray e McDormand, por exemplo, o mínimo espaço da coadjuvância e, a bem da verdade, todos os outros marmanjos servem igualmente de escada para o elenco jovem. Também pesa negativamente a reiteração das temáticas (amadurecimento, afetividade, coragem, dedicação e amor), uma vez que elas não encontram amplitude nos desdobramentos da trama. Wes Anderson apoia-se, mais uma vez, em figuras exageradas vivendo momentos nonsense para fazer de Moonrise Kingdom uma delícia de ver. Pena o encantamento da sessão não sobreviver intacto ao tempo que transcorre implacável após ela.


Publicado originalmente no Papo de Cinema

5 comentários:

  1. Sua crítica sofisticada faz com que o leitor repense em tudo que viu hehe. Eu adoreiii muito Moonrise Kingdom, mas seu último parágrafo é pontual e pertinente.Ele explora e cria em cima de figura exageradas. Normalmente não curto Wes Anderson, mas esse gostei.
    beijos
    parabéns pelo texto.

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  2. Obrigado, Carol.

    É, também não sou lá muito fã de Wes Anderson. Acho seus filmes quase sempre bons divertimentos(passam longe da banalidade) mas com prazo de validade.

    Obrigado pelo carinho de sempre.
    beijão

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  3. Fui ao cinema cheio de preguiça com as mesmices do Anderson, mas saí de lá surpreendido e encantado com a história de amor infantil contada por MOONRISE KINGDOM. É um dos meus favoritos do ano.

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  4. Wallace, posso te dizer que também sou meio preguiçoso com os maneirismos do Anderson. "Moonrise Kingdom" me agradou bastante, mas sabe quando o filme não dura muito após a sessão? Pois é.

    Abraços e obrigado pela visita.

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