sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Doses Homeopáticas #57

O CHICOTE E O CORPO, do diretor Mário Bava, começa com um “fantasma” cavalgando na beira da praia em direção à velha casa onde não é bem-vindo. Christopher Lee interpreta esse homem odiado por empregados e pela própria família, que chega ao castelo iluminado apenas pela luz das velas e da lua para trazer desgraça. O clima de terror é constante, com o chiaroscuro e a cenografia sendo em grande parte responsáveis por isso. Bava ambienta a contenda familiar num cenário macabro, marcado por sombras, no qual a luz pena para conseguir trazer algum tipo de alento ao que parece realmente fadado a virar tragédia. A cena em que Kurt chicoteia o antigo amor, expondo assim seu sadismo em conexão com o masoquismo dela, é apenas a perversão mais evidente das que surgem nas relações entre os personagens. Literalmente transformado mais tarde em fantasma, o filho regresso assombra a mulher que não consegue esquecê-lo, deixando um rastro de morte sempre que sai da catacumba para seduzi-la. O olhar compenetrado de Lee personifica o perigo, a danação que abate o clã, parte de uma sina escrita na história com sangue e lágrimas neste clássico italiano.


Baseado num conto de Edgar Allan Poe, A ORGIA DA MORTE é dirigido por Roger Corman, fã confesso do escritor norte-americano. A morte se veste de vermelho, ceifando vidas por meio da peste num vilarejo. Alheio a isso, o príncipe interpretado por Vincent Price incentiva nos limites de seus muros toda sorte de atrocidades promovidas pela aristocracia, protegido por um pacto com o diabo. Os três aldeões levados à corte servem de brinquedo aos nobres, sobretudo a esse monarca que pensa estar acima do bem e do mal. Enquanto os moradores da vila sucumbem diante da doença que avança, não encontrando clemência nos portões do castelo, os convidados do baile de máscaras se regozijam até mesmo quando um dos seus é incendiado. Em meio a uma trama de terror, Corman preserva a crítica social, não apenas por denunciar a opulência dos ricos opressores, mas também por mostra-los como vítimas do próprio ridículo. Abastados digladiam-se no salão quando o anfitrião lhes joga pedras preciosas, demonstrando ganância desmedida.  Os cenários suntuosos e as cores saturadas marcam o visual do filme. Terror sofisticado, um grande exemplar do rei dos filmes “B”.


Boris Karloff vive um profanador de sepulturas em O TÚMULO VAZIO, homem sem escrúpulos que chantageia a aterroriza o médico para o qual presta serviços. O doutor precisa de corpos para as aulas de anatomia. O taciturno cocheiro necessita de dinheiro. Um jovem aprendiz não quer fazer parte desse jogo sujo, mas cede diante da chance de curar a paralisia de uma menininha impossibilitada de correr e brincar como as outras crianças. O diretor Robert Wise investe na persona forte de Karloff, na interpretação de um ator que parece talhado para incitar medo. A ética é posta à prova durante a trama, afinal de contas, os médicos roubam cadáveres para aprofundar conhecimentos a respeito do corpo humano, algo que, em tese, servirá mais adiante para salvar vidas. Mesmo que haja certa nobreza por trás desse ato de tornar vazias as sepulturas, é algo contrário à lei vigente. Complexidades morais à parte, o filme possui figuras muito bem delimitadas, de quem podemos esperar este ou aquele comportamento. A força da narrativa se encontra no choque entre os anseios e as determinações das pessoas, bem como no visual macabro e na presença marcante de Boris Karloff, cujo personagem transpira ameaça. 

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