terça-feira, 21 de outubro de 2008

CRU


Cru. Primitivo. Sentimento em estado bruto, difícil de domesticar por meio de nossas mentes super-desenvolvidas. Amor, daquele que dói, machuca, arde e, mesmo assim, nos parece necessário.

Tendo como centro narrativo o amor, a Cia Teatral Atores Reunidos estreou, na última sexta-feira, seu mais novo espetáculo: CRU. Nome apropriado à uma montagem que nos joga na cara, sem a intenção da ofensa e do choque, a fragilidade humana por meio de temas que dialogam com nossos recantos mais íntimos. O olhar de indiferença, a mortandade do sentimento e da carne, as teias que fabricamos em busca de amor, tudo está nesta obra intimista, difícil e catártica. O afeto se confunde (ou se funde) em uma antropofagia que faz com que tenhamos, quase como instinto, a necessidade de devorar o outro numa espécie de canibalismo sentimental. A morte espreita, aguarda o resultado de nossos joguetes sentimentais, contando com a perenidade desta busca pelo clichê “amar e ser amado”.

Tal qual a nudez dos atores em cena, somos levados, durante quase uma hora, a ficarmos expostos à nós mesmos. Sensação difícil esta, causadora de um desconforto, a priori, inexplicável. Após decantar o espetáculo, vemos que ele estabeleceu o diálogo supracitado com nosso íntimo, provocando algo mais do que o racional pode explicar. Em CRU nosso sensorial manda, é como a sentimos que faz toda diferença.

Gostar ou não, envolver-se ou não, é muito subjetivo. Por isso mesmo eu digo: vá e tire suas próprias conclusões. Espero, sinceramente, que para você seja uma experiência tão edificante quanto foi para mim.

2 comentários:

  1. Olá, Celo!
    Belo texo, daqueles onde as palavras não soam ocas. O Rau está de parabéns, conseguiu, juntamente com a Cia Tetral, montar um espetáculo pertinente. Pensei que a nudez soaria estranha à mim, pois não, a peça a retrata com a naturalidade que lhe é de direito e que nós, devido nosso sentido de socialização, a tornamos um tabu difícil de transpor.

    Abraçossss

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  2. Já faz algum tempo que vi a peça, porém o sentimento que tive quando a mesma terminou permanece, sendo ele o de choque. Não com a montagem ou com o texto, mas com a realidade tão evidente que faz parte de cada um de nós, muitas vezes subjulgada e deixada de lado quando o assunto é o amor. Um trabalho excepcional, sem dúvida.

    Parabéns pelo texto, Celo!
    Abraços.

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