sábado, 27 de dezembro de 2008

Crítica: Marley & Eu

Direção: David Frankel
Roteiro: Don Roos e Scott Frank, baseados em livro de John Grogan
Elenco: Owen Wilson, Jennifer Aniston, Alan Arkin, Eric Dane, Kathleen Turner, Nathan Gamble.

Marley, o pior cão do mundo. Difícil pensar nessa definição para o animalzinho que aparece com uma fita vermelha no cartaz de Marley e Eu, filme familiar que chegou no natal aos cinemas e que apresenta um casal simpático se adaptando a diversas mudanças, sejam elas geográficas, profissionais, ou mesmo relativas ao aumento da família. Difícil pensar que o carismático labrador poderia ser o pior cão do mundo, mas não quando se assiste ao filme e se percebe os problemas que John e Jenny Grogan tiveram ao longo do tempo tendo Marley como animal de estimação.

Confesso que se mostra difícil não transformar um texto sobre Marley e Eu em algo pessoal. Não li o livro de John Grogan, best-seller que deu origem ao filme, mas a produção tocou quem vos escreve já nos créditos iniciais, quanto colocou Michael Stipe e Kate Pierson cantando a animada Shiny Happy People. Também não sou o maior fã de cachorros, mas quem pode resistir aos filhotes que aparecem em cena quando o personagem de Owen Wilson, que interpreta o já mencionado John Grogan, decide presentear sua esposa com um labrador? Outro ponto que devo mencionar é a escolha de Jennifer Aniston para viver Jenny Grogan, sendo eu um fã incondicional da extinta série televisiva Friends.

Uma vez mencionados todos os atrativos para mim na produção, não posso sobrepô-los aos erros do filme dirigido por David Frankel, que não são poucos e transformam Marley e Eu em outra produção gananciosa dos estúdios americanos, que se utiliza de diversos recursos apelativos para comover e ganhar seus espectadores. Frankel já fez trabalho semelhante em O Diabo veste Prada, outra adaptação de best-seller que dirigiu, e segue a mesma linha de trabalho tocando um filme que apela para a comédia inicialmente, mas que lentamente vai se transformando em algo mais sério e dramático.

O roteiro escrito a quatro mãos por Don Roos e Scott Frank é bem resolvido e opta por soluções interessantes vez ou outra para dar continuidade a trama, como alguns pulos no tempo em momentos onde a história poderia se tornar monótona. Outra opção inteligente dos roteiristas junto ao diretor foi a de inserir uma seqüência onde John narra uma série de acontecimentos em ‘fast forward’, o que apresentou diversas situações que provavelmente foram relatadas no livro e que seriam menos relevantes para a trama do filme se apresentadas integralmente, mas nem por isso descartáveis.

O enfoque do roteiro de Roos e Frank é bastante adequado pois não se limita apenas às peripécias do cão e as dificuldades de seus donos em educá-lo, mas abrange o desenvolvimento de boa parte da vida do casal Grogan. Por exemplo: é triste perceber que John nem sempre esteve satisfeito com aquilo que tinha em mãos, sempre buscando melhorar de vida sem desagradar os que o cercavam, o que nem sempre se mostrava uma satisfatória decisão. Sebastian, o amigo de John, não é um personagem gratuito por isso, já que sempre esteve fazendo o que quis, conquistando tudo aquilo que John sonhara, mas nem por isso é mais feliz que ele. Pelo contrário: quando ambos se encontram depois de muito tempo separados, John percebe que não trocaria sua família pela vida que o amigo leva (fato que inteligentemente fica implícito no filme). Os conflitos do casal também são exibidos sem muitos artifícios, assim como o nascimento de seus filhos e todas as adaptações necessárias para que a família siga vivendo.

Não conheço John Grogan e tão pouco vi alguma entrevista do mesmo para saber como ele é, mas Owen Wilson nunca deixa de ser Owen Wilson nos papéis que representa, por tanto a imaturidade do ator acaba comprometendo sua caracterização como o dono de Marley. O personagem se mostra tangível em boa parte da película, mas quando sua vida passa a mudar, também com a chegada dos filhos, ele simplesmente não se desenvolve, o que não o deixa permanecer crível. Já Jennifer Aniston se sai melhor nessa questão, criando Jenny como uma mulher forte que abdica de sonhos antigos por sua família. Curioso mesmo é perceber que nenhum dos dois atores foi caracterizado para se assemelhar mais aos donos de Marley, estando ambos exatamente iguais ao que são na realidade e como aparecem na maioria das produções que protagonizam. Ainda no elenco se encontra Alan Arkin como o editor chefe do jornal em que John trabalha, responsável pelas melhores piadas do filme. Eric Dane, que interpreta Sebastian, repete exatamente seu papel como o Dr. Sloan da série Grey’s Anatomy, um mulherengo bem sucedido que serve como amigo do personagem principal.

Marley e Eu é isso, uma produção comercial que tem seus erros ofuscados por vários acertos. Longe de ser um grande filme ou uma obra obrigatória, a comédia dramática vale ser vista por agradar facilmente, pelo tom leve com que se desenvolve e por relatar com veracidade o relacionamento entre humanos e animais. Se você já teve um bichinho de estimação fica impossível não se identificar com John ou Jenny, uma vez que ambos se mostram extremamente prejudicados pelo bagunceiro Marley, mas mesmo assim não conseguem deixar de gostar do querido animal.


Nota: 7,0
Publicado originalmente em
www.cineplayers.com

2 comentários:

  1. Ok, eu acho que Owen Wilson e Jennifer Aniston sempre se interpretam nos filmes, não sendo a atuação deles um grande atrativo para que eu tenha vontade de ver este filme. Então porque eu quero ver? Acho que é por causa do cachorro mesmo e desta história toda de animais de estimação. Como tenho uma cachorrinha e uma gata, este é um ponto fraco que devo confessar: animais quando bem usados em filmes, me emocionam (alguém lembra da Baleia em "Vidas Secas"?). Sim, confesso, quero ver "Marley e Eu". Sei que vou chorar igual a um louco, eu sei que vou..hehehe

    Abraços

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  2. Olá, Kon!
    Em dose dupla. Cara, gostei do seu texto. Não vi o filme, todavia é clássico esse tipo de película com animais de estimação serem agradáveis, mesmo com roteiro leve, de fácil assimilação, acrescento ainda a obviedade que costumeiramente circunda uma produção assim. Pois bem, quem não tem coração de pedra, ou ao menos não odeia animais, possui tendência à comoção perante tal filme. De qualquer maneira, ciente dos erros que ele há de ter e você, Kon, apontou alguns, pretendo conferir as peripécias caninas de Marley.

    Abraçosss

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