segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Gran Torino

Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Nick Schenk, baseado na história original escrita por de Dave Johannson, Nick Schenk
Elenco:
Clint Eastwood, Geraldine Hughes, John Carroll Lynch, Cory Hardrict, Dreama Walker, Brian Haley, Doua Moua, Brian Howe, Lee Mong Vang, Bee Vang, Ahney Her, Sarah Neubauer, Christopher Carley, Nana Gbewonyo, Rio Scafone

Hoje, aos 78 anos, Clint Eastwood é um dos mais respeitados profissionais de cinema, seja pela história que construiu no passado, como ator, ou mesmo pela carreira que edificou, principalmente nos últimos 15 anos, como diretor. Cada vez que é divulgado um novo trabalho seu, paira sobre ele a expectativa de mais uma indicação ao Oscar, ou mais algumas, se levarmos em conta suas últimas obras. A academia parece gostar muito de Clint, parece ter um carinho especial com as realizações deste ator que já fez de tudo, mas que se tornou legendário por meio dos westerns, gênero americano por excelência (mesmo que Eastwood tenha se tornado notório nos spaghettis de Sérgio Leone). Neste ano, o quase octogenário cineasta dá provas de fôlego e disposição ao realizar dois filmes (tal qual tinha ocorrido em seus projetos anteriores, A Conquista da Honra e Cartas de Iwo Jima): A Troca, filme que tem como protagonista Angelina Jolie (muito elogiada no último Festival de Cannes) e Gran Torino, filme que, segundo o cineasta, marca sua despedida em frente às câmeras, ou seja, mantida a palavra, é a última aparição de Eastwood como ator. E que despedida.

No filme, ele interpreta Walt Kowalski, um veterano da guerra da Coréia, que se vê cercado de vizinhos imigrantes. O problema é que Kowalski, além de mal-humorado, é preconceituoso e não está nem um pouco preocupado em costurar laços com quem quer que seja (menos ainda com coreanos), mesmo com seus filhos e netos, que o tratam de forma distanciada. Morando com sua cadela, a única que consegue conviver fraternamente com ele, Kowalski é um tipo que, a priori, parece fazer de tudo para afastar as pessoas, por simplesmente não gostar do contato que tem com elas. Ele não tem fé, parece carregar mais culpa do que se imagina, como se fantasmas o visitassem toda noite e, ainda assim crê não precisar de ajuda alguma, é um solitário convicto. Conforme a história vai se desenvolvendo, e por alguns caminhos os quais não convém entregar aqui, o velho Walt começa a ter contato com a gente que antes desprezava por puro preconceito e a casca que parece cobri-lo vai se quebrando aos poucos, numa narrativa que endurece quando se espera sentimentalismo, mas que não perde a ternura.

É até difícil, falando das interpretações de Gran Torino, tentar avaliar os coadjuvantes, que tiveram a dura missão de fazer frente a uma atuação tão avassaladora como a de Clint Eastwood. O ator desenvolve seu personagem de uma forma tão visceral, tão orgânica e convincente que não tem como deixá-lo fora do quadro. Ele é o eixo da narrativa, o pilar de um filme feito com esmero e mãos de artesão. Gran Torino lembra aqueles exemplares de antigamente, que não precisavam de grandes estripulias para prender a atenção do espectador. Alguns podem acusá-lo de ter uma trama convencional, ou mesmo de ser esquemático, o que, em minha opinião, não é verdade. O que poderia justificar alguma ressalva é a mudança um tanto quanto radical de Kowalski em relação à seus preconceitos, algo que eu entendo como idéia que reforça a casca que cria em torno de si, não sendo ele tão ruim e rancoroso de fato, tendo a dita casca quebrada com certa facilidade então. Alguns subtextos tornam o filme ainda mais interessante e o personagem de Clint ainda mais humano. Se vai ganhar algum prêmio, um Oscar, aí eu já não sei, mas Clint Eastwood merece todo e qualquer pela vida que dedica ao cinema, à realizações de qualidade e profundidade. E se esta é sua despedida como ator, só tenho a agradecer e aplaudir pelo trabalho que ele desempenhou durante estes anos, encarnando tantos personagens diferentes e culminando neste que é uma obra-prima, e que habita num filme tão bonito e bem realizado.

2 comentários:

  1. Será que é realmente o último filme de Eastwood? Espero que não, mas se o mesmo continuar dirigindo não fico tão preocupado. Seus últimos filmes mostraram o quanto Clint domina as técnicas para realizar excelentes produções, então acredito na qualidade de Gran Torino tendo visto apenas sua prévia. Com seu texto Celo, certamente passo a esperar ainda mais do filme.

    Um grande abraço!!

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  2. Olá, Celo!
    Não nos deixe, Clintão - modo fraterno que nomeamos esse ícone. O Clint tem demonstrado nos últimos anos todo o talento que possui, não restrito de maneira alguma às atuações em westerns, bem destacado por você, Celo. Projeto que contém colaboração, mínima que seja, desse exemplar do verdadeiro artista e cineasta, mais precisamente, é pré-requisito para voltarmos nossa atenção. E seu texto, Celo, corrobora para tal.

    Abraçosss

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