sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Frost/Nixon

Direção: Ron Howard
Roteiro: Peter Morgan
Elenco: Frank Langella, Michael Sheen, Kevin Bacon, Matthew Macfadyen, Toby Jones, Sam Rockwell, Andy Milder, Oliver Platt

O caso Watergate é o maior escândalo político da história americana. Durante a campanha eleitoral, cinco pessoas foram detidas quando tentavam fotografar documentos e instalar aparelhos de escuta no escritório do Partido Democrata. O então presidente, Richard Nixon, foi acusado de saber de tudo, sendo portanto cúmplice de um sério crime, não só condenável do ponto de vista eleitoral, mas também criminal e ético. O desenrolar das denúncias é público e notório. Na iminência da votação de seu impeachment, Nixon renunciou à Casa Branca, sendo vergonhosamente perdoado de todos seus crimes por seu substituto, o anteriormente vice-presidente, Gerald Ford. Pela magnitude do caso, diversos filmes já foram realizados sobre Watergate, incluindo Todos os Homens do Presidente, de Alan J. Pakula e Nixon, de Oliver Stone, além de diversas citações e outras formas pelas quais Hollywood se utilizou do caso e sua repercussão. Frost/Nixon, recente filme de Ron Howard, foca na célebre entrevista que o então ex-presidente deu à David Frost, em 1977, quatro anos após ter saído do governo.

O tema é complexo, o filme é sobre política e isto, por si só, pode afastar alguns, que não gostam do assunto ou mesmo que não estejam dispostos a passar duas horas vendo um filme sobre uma entrevista. Eu mesmo esperava pouco da obra, afinal Ron Howard não é o que podemos chamar de “grande diretor”. Fico feliz em dizer que Frost/Nixon é uma grata surpresa, pela competência e simplicidade com que Howard conta este episódio que tanto marcou a política estadunidense. A história é contada de maneira bem simples, sem grandes estripulias visuais. A narrativa se desenrola num misto de linearidade clássica e estilo documental, mas não documental no sentido estético, e sim pela representação de que alguns personagens, os mais importantes, estariam fazendo parte de um documentário, paralelamente à dramatização. É uma opção interessante, que poderia ter deixado o filme cansativo caso fosse utilizada em demasia, mas que se mostrou bem inteligente, em suas poucas inserções. Não digo que não há defeitos, eles existem sim. Personagens meramente decorativos e coadjuvantes um pouco mal aproveitados enfraquecem o que poderia ser a base de um grande filme. Mesmo com estas falhas, habituais na filmografia de Howard, diga-se de passagem, Frost/Nixon é um ótimo filme, que preza pela estrutura simplificada e aposta no grande desempenho de seus atores para triunfar.

Numa temporada cheia de interpretações masculinas de destaque (Sean Penn, Clint Eastwood, citando somente dos filmes que vi), em Frost/Nixon temos, pelo menos, mais dois intérpretes em grandes desempenhos. Michael Sheen muito seguro no papel do jornalista David Frost (sua performance só não é melhor pela falta de profundidade de seu personagem). Já Frank Langella enverga a figura de Richard Nixon com maestria, impetrando, desde a impostação de voz até um simples olhar, em nós, espectadores, o sentimento de estarmos diante de um presidente, de uma figura imponente e poderosa. Frost/Nixon é um filme político que não subtrai do espectador informações cruciais e momentos emocionais. E é neste jogo, na entrevista que Nixon concede à Frost, que temos o ponto alto, em momentos de tensão que lembram mais uma guerra, na abordagem dos bastidores e no embate psicológico entre entrevistador e entrevistado. Ron Howard tem muitos méritos, por ter evitado qualquer parafernália narrativa desnecessária, e ter feito um filme que se concentra no essencial, em sua história e em como ela é contada. Grata surpresa mesmo.

2 comentários:

  1. Olá, Celo!
    Devo confessar que não estava animado à assistir Frost/Nixon, porém seu texto despertou em mim ao menos curiosidade. Tenho consciência do clichê que cometo com as palavras anteriores a esta, porém não consigo me desvencilhar dele no momento. Sem mais enrolações improdutivas.

    Abraçosss

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  2. Celo!
    Tem produzido muitos textos nos últimos tempos, hem?! Isso é ótimo. Tenho que seguir seu exemplo. hehehe Não tinha muito interesse, assim como o Rafa disse anteriormente, em Frost Nixon. Ainda imagino que seja um filme sério e seco demais, mas quem disse que tais características são negativas? Pretendo ver e então lhe darei opinião mais fundamentada.

    Grande abraço!
    Parabéns pelo texto. :)

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