terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Milk - A Voz da Igualdade

Diretor: Gus Van Sant
Roteirista: Dustin Lance Black
Elenco: Sean Penn, Emile Hirsch, Josh Brolin, Diego Luna, James Franco, Alison Pill, Victor Garber, Denis O'Hare, Joseph Cross, Stephen Spinella, Lucas Grabeel, Brandon Boyce, Howard Rosenman, Kelvin Yu, Jeff Koons

Harvey Milk foi o primeiro político assumidamente gay dos Estados Unidos. Se ainda existe, nos dias de hoje, preconceito contra homossexuais, negros, e outras classes consideradas antropologicamente como “minorias”, imagine na remota década de setenta, na qual Milk foi eleito como supervisor da cidade de São Francisco. Imagine então, um gay (Milk preferia que os chamassem assim) influente politicamente, surgindo para lutar contra a intransigência de uma nação que tinha (tem até hoje) como base a religião e os preceitos da família. Para o tido “cidadão comum americano” o homossexualismo era um “estranho no ninho”, uma afronta à moral e aos bons costumes da tradicional instituição familiar, ou seja, um modelo a ser reprimido pelo bem dos Estados Unidos.

Harvey Milk precisou lutar contra isto tudo, contra todas as formatações morais da sociedade, desde que decidiu abrir uma loja, beijar seu companheiro em público e, aos poucos, reunir, espontaneamente, diversas lideranças gays, que fizeram dele um líder comunitário, um pacificador, um ativista civil. Milk passou a ser a voz dos excluídos, algo comparável ao que Martin Luther King fez ao povo negro americano. Surpreendentemente angariando a simpatia de outros grupos, como o dos aposentados e idosos, por exemplo, Milk começou a almejar mais. Queria ser um político, com poderes para fazer algo maior, como mudar algumas leis, evitar que outras fossem aprovadas, garantindo assim uma sociedade mais igualitária no que diz respeito aos direitos civis.

Gus Van Sant filma a história em Milk – A Voz da Igualdade de maneira apaixonada, utilizando uma linguagem muito diferente de seus mais recentes trabalhos, que se destacavam por reflexões silenciosas, planos longos e economia nos diálogos. Aqui o diretor se apropria da linguagem documental, abusando da câmera na mão e imagens de arquivo. Milk – A Voz da Igualdade é uma peça em três atos. No primeiro, somos familiarizados com Milk e figuras coadjuvantes muito interessantes, bem construídas e interpretadas. A caracterização, o cuidado que a equipe teve com a reconstrução de época, seja nas roupas ou mesmo nos gestos, faz da direção de arte algo que salta aos olhos logo no início. A narrativa que mescla elementos políticos com aspectos sociais se intensifica no segundo ato e Milk – A Voz da Igualdade vai crescendo, nos mostrando como realizar um belo documento de época sem ficar preso à convenções cinematográficas ou mesmo a discussões intermináveis e/ou enfadonhas. A nova realização de Gus Van Sant caminha, então, para ser um filmaço, uma obra irretocável. Só não o é, por causa de um terceiro ato em que há ligeiro excesso de politicagem e enfraquecimento dos personagens coadjuvantes. Felizmente, nada que prejudique o filme como um todo, ou que faça a mensagem perder valor.

Milk – A voz da Igualdade é exitoso por um conjunto de fatores e não por algo isolado. Mas se há um elemento no filme que ficará na história, um destaque que tenha de ser feito por sua assustadora competência, é a interpretação de Sean Penn. O desempenho paranormal de Penn é de cair o queixo e ficar babando, por sua delicadeza e pela verossimilhança com que enfrenta os problemas de Harvey Milk, seus dilemas e vitórias, suas derrotas e frustrações. Sorte nossa que Sean Penn e Gus Van Sant trabalharam em sintonia, criando assim um personagem brilhante. Ele habita um filme imperfeito, é verdade, mas que possui uma mensagem das mais importantes, além de ser altamente relevante como cinema. Prestem atenção, este pode ser o vencedor de alguns Oscar’s. Eu torço por isso.

2 comentários:

  1. Olá, Celo!
    Bem agradável seu texto, Celo. Bom, mas o que está em jogo é o filme. Assim que possível, assistirei, tendo em vista seu entusiasmo, acredito que me agradará também.

    Abraçosss

    ResponderExcluir
  2. Van Sant é um diretor que sempre surpreende, seja pelo experimentalismo em seus filmes, que algumas vezes os tornam insuportáveis, seja por espetacular destreza para guiar em narrativa temas sérios de forma nada superficiais. Acredito que Milk vá mais por este segundo lado, que o diretor já não mais queira exagerar apenas no visual. Fiquei ainda mais interessado após ler seus elogios. Abraços Celo!

    ResponderExcluir