sábado, 20 de junho de 2009

Crítica: Tinha Que Ser Você

Direção e roteiro: Joel Hopkins
Elenco: Dustin Hoffman, Emma Thompson, Eileen Atkins, Kathy Baker, Liane Baladan, James Brolin.


Quando Mais Estranho Que a Ficção foi lançado um de seus principais problemas, além de Queen Latifah, era o de não colocar em uma mesma cena por tempo suficiente os atores Dustin Hoffman e Emma Thompson. Pois é com essa espécie de correção que surgiu Tinha Que Ser Você, drama romântico que pode não propor uma premissa fascinante e inventiva, mas que já agradaria por contar com dois excelentes intérpretes que em muitos outros projetos foram mal aproveitados.

Elevados à posição de protagonistas em um filme aparentemente feito sob medida para ambos, os atores são, infelizmente, um dos poucos acertos deste drama de Joel Hopkins. É uma pena perceber que um filme com notável potencial tenha sido mal desenvolvido, uma vez que seu diretor, se tivesse se limitado à simplicidade e compreendido os atores que tinha em mãos, assim como o texto, que ele próprio escreveu, teria criado um dos filmes mais agradáveis deste ano.

A tal última chance de Harvey, indicada no título original da produção, na realidade diz respeito a duas coisas. A primeira última chance, se assim pode-se dizer, faz menção ao seu trabalho como compositor de jingles para comerciais, e a necessidade de conseguir fechar negócio com uma grande empresa. A segunda última chance acontece quando o mesmo vai até Londres para o casamento de sua filha e, se sentindo cada vez pior por ser aparentemente ignorado por todos, conhece a encantadora Kate Walker, que divide o sobrenome com o Johnnie que Harvey pede ao garçom no momento em que os dois passam a se conhecer melhor em um restaurante.

O que se desenvolve no filme até este ponto é a realidade latente de seus protagonistas: ambos possuem problemas em relacionamentos, dos mais variados tipos. Kate, que tem uma estranha relação com sua mãe, se mostra sem graça e se esquiva até mesmo quando é cantada por um vizinho. Harvey, por sua vez, não é mais bem sucedido em suas investidas, no momento em que acaba ignorado quando tenta puxar conversa com uma estranha no seu vôo para Londres. Não é gratuitamente que, quando Kate e Harvey se cruzam pela primeira vez, o mesmo se desvencilha dela, que apenas gostaria de fazer algumas perguntas a ele, parte de sua profissão. Os dois sofrem por se perceberem constantemente sozinhos mesmo quando estão cercado por várias pessoas, e isso se constata no encontro às escuras de Kate, ou no jantar que acontece antecedendo o casamento da filha de Harvey.

Quando ambos se cruzam novamente tudo o que têm em comum é a insatisfação total com aquilo que os cercam: Kate não se deu bem em seu encontro e sua mãe continua a incomodar, enquanto Harvey foi despedido e acabou de descobrir que sua filha prefere que seu padrasto à leve até o altar no lugar do próprio pai. O que se segue a essa troca de lamentações é uma espécie de Antes do Amanhecer 30 anos depois, com dois personagens trocando suas experiências, desilusões e, obviamente, os flertes que os unem como casal enquanto o roteiro se desenvolve.

Mas o supracitado filme de Richard Linklater acerta no que Hopkins ousa ignorar, que é aceitar que a força para seu filme está no desenrolar da conexão e relação dos personagens e, obviamente, na interpretação de seus atores. Enquanto Linklater conseguiu sucesso até mesmo em terreno pouco confiável, ou seja, com uma sequência tão apreciável quanto o filme que a originou, Hopkins merece apenas ser culpado por não ter capacidade suficiente de desenvolver um drama sem o mergulhar em uma série de convencionalismos baratos do gênero, passando pelas subtramas descartáveis, caminhando por coadjuvantes inverossímeis e, por fim, cedendo a reviravoltas desnecessárias que em nada acrescentam em seu filme, a não ser à metragem do mesmo.

Tinha Que Ser Você, título oportunista e nada justificável recebido no Brasil pelo filme, é agraciado apenas pela capacidade incrível de Dustin Hoffman e Emma Thompson em desenvolver seus personagens de forma única e, quase que em totalidade, se sobreporem aos já mencionados erros de condução evidentes na produção. De qualquer forma, o filme têm seus méritos por dar espaço aos dois excelentes atores que, preenchendo a tela em quase toda a duração do longa, fazem com que o mesmo se torne, antes de tudo, tolerável.

3 comentários:

  1. Confesso que os nomes Dustin Hoffman e Emma Thompson sempre foram motivo, pelo menos para mim, de encarar um filme, seja ele qual for. O problema, é que se formos encarar o período mais recente de suas carreiras, não temos como negar que eles estão numa onda de filmes menores(neste caso no sentido pejorativo mesmo). Não tenho muita curiosidade para ver este, ainda mais depois de sua análise. Mas quem sabe um dia, quem sabe.

    Abraçosss

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  2. Fiquei morrendo de vontade de ver o filme; embora peque em alguns aspectos, segundo meu entendimento, creia que deva ser estimulante.
    Beijão, Kon

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  3. "Ah, que simpático". Hehehehe
    Só para lhe irritar.

    Cara, gostei dos eu texto, me soou "clean", sei lá por que razão. Quanto ao filme, deve ser bacaninha, mas sua crítica despertou meus sentidos para uma outra produção que ainda não vi: "Antes do Amanhecer". Adoro os romances ficcionais, são tão belos. A vida, às vezes, deveria imitar a arte.

    Abraçossss

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