sexta-feira, 27 de agosto de 2010

5 X Favela – Agora Por Nós Mesmos


Nos anos 1960, o filme Cinco Vezes Favela, que contava com a regência de vários diretores de classe média (hoje referências) se tornou um das sementes do Cinema Novo pela forma como tratava os filhos destas comunidades periféricas e mais precisamente pela maneira como os retratava. Por meio de um destes diretores, Cacá Diegues, é que surgiu este 5 X Favela – Agora Por Nós Mesmos, resultado de diversas oficinas de cinema direcionadas a moradores de favelas cariocas. Então, diferente de 50 anos atrás, ele é composto de cinco filmes captados de dentro para fora, sob a ótica de quem vivencia o cotidiano de áreas como estas. Se antes os intelectuais serviram de interlocutores para um povo oprimido, que não tinha voz suficiente para dizer a que veio, 5 X Favela – Agora Por Nós Mesmos é um filme pelo qual esta gente, ainda marginalizada socialmente, se expressa diretamente.

Exibido recentemente no Festival de Cinema de Gramado fora de concurso, numa sessão especial, após passar em Cannes e ter obtido consagração no Festival de Paulínia, o filme alcança o que muitos deste tipo episódico não conseguem: unidade. Por mais que cada história siga uma linha distinta, juntas elas formam um painel de facetas que enriquecem umas as outras, na busca do retrato mais fidedigno possível das situações cotidianas da periferia carioca. Extremamente cinematográficos, bem dirigidos e interpretados, os curtas que compõe o todo são excelentes, e é difícil escolher um como destaque, até porque não consigo percebê-los essencialmente independentes (embora assim ainda sejam excelentes), e sim como frações fundamentais de um complexo que funciona, e muito. Mas se tivesse que apontar meu favorito, este seria Arroz Com Feijão, a história do menino que cansou de ver o pai levar na marmita somente a combinação do título, pela maneira delicada e engraçada como cria esta espécie de fábula naturalista.

Juntamente com Bróder de Jéferson De (sobre ele, falo mais quando o filme estrear comercialmente) 5 X Favela – Agora Por Nós Mesmos aponta para, quem sabe, uma nova tendência na cinematografia brasileira, pelo menos na parte que diz respeito a retratação dos moradores de comunidades carentes, não raro confundidos - ou mesmo generalizados - com a bandidagem que se prolifera no meio. Na favela não tem só bandido, ou só herói. É um local que conserva suas idiossincrasias, com qualquer outro. A única diferença é que, já que o meio afeta inexoravelmente o individuo, nascer e crescer bem distante dos bons colégios, da educação galgada no que de mais atual a pedagogia oferece, entre outros fatores, pode oferecer um caminho mais espinhoso, e neste percurso acidentado o que separa o “permanecer reto” e o “buscar atalhos na criminalidade”, é uma linha bem tênue. É, parece que o cinema brasileiro não mais comporta arquétipos e estereótipos cansados, como modelos de representação cinematográfica deste povo que vive ao largo do asfalto e das grades que "protegem" as classes média e alta de qualquer cidade.

2 comentários:

  1. Ótimo texto Celo!
    Espero poder conferir o filme logo (isso se ele aparecer por Caxias ainda nos cinemas...) e assim ser capaz de o discutir contigo.

    Abraços!

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  2. Texto inspirado, hein, Celo? Tenho muita vontade de conferir este filme, todavia seria interessante assistir antes ao de décadas já idas.

    Abraçossss

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