domingo, 1 de agosto de 2010

(Cia2)²


Prefiro, sempre preferi, o drama à comédia. Não vou radicalizar, profetizando que o mundo é um local cheio de dor e sofrimento, por mais que realmente o ache majoritariamente assim, já que não quero parecer mórbido ou um destes pseudo-depressivos. Fazer rir é difícil, seja por meio de qualquer forma de expressão, eu sei, mas devo confessar que corroboro quando alguém coloca a comédia um patamar abaixo do drama, da tragédia. Sei que racionalmente não se poderia fazer este juízo de valor, até por que ambas vertentes co-existem sem necessariamente anular-se, mas fazer o quê? Quem sabe eu seja apenas uma parte de um pensamento dominante que acredita que as grandes questões, os verdadeiros temas relevantes, só consigam exploração adequada quando vistos sob a ótica do pessimismo, este que me atrai na arte, muito diferente do otimismo com o qual enxergo a vida, pelo menos a minha. Esta contextualização do autor do texto será importante para o pleno entendimento do viés do que está porvir.

AO QUADRADO é uma comédia, a segunda peça levada à cena pela Cia2 - Grupo de Teatro, dirigida por Márcio Ramos, que surgiu como célula da Cia Teatral Atores Reunidos. Seu primeiro espetáculo, Paranoia (Sit Down Comedy), era uma proposta audaciosa, numa tentativa de escamoteamento do drama sob a superfície cômica. Não gostei muito, achei as conexões estabelecidas meio vagas, esquetes soltos demais, algumas passagens até pretensiosas em demasia, enquanto outras soavam ingênuas, mas tudo isto era, e ainda é, plenamente justificável pela jovialidade de uma estreia. O que importa é que se via a vontade, a inquietude dos sangues novos dispostos a mudar a cena teatral caxiense já tão letárgica na rotatividade dos mesmos e acomodados grupos, salvo raras exceções.

 

AO QUADRADO continua esta busca pela simbiose entre a comicidade e o drama, e dá um sentido de unidade no repertório ainda tão recente da Cia2 - Grupo de Teatro. Dentro do projeto “Novos Diretores”, a companhia criou um espetáculo coral no qual os esquetes foram escritos e dirigidos pelos próprios atores, expediente este que, creio, auxiliou os mesmos a terem muito mais consciência de suas personas, de suas capacidades como corpos cênicos. Se colocarmos os dois trabalhos, o da estreia e este, em perspectiva, há um enorme crescimento demonstrado, tão forte, na opinião deste que vos escreve, que não me parece entusiasmo infundado apontar AO QUADRADO como um dos trabalhos mais interessantes da recente produção teatral caxiense. Nos quatro esquetes podemos degustar textos bem escritos, cheios de referências da geração a que pertencem os artistas que geriram o espetáculo. Há momentos hilários, e tentar exemplificá-los seria condenar o leitor a muito mais linhas, pois não há como exaltar somente alguns destes momentos em detrimento de tantos outros.

Porém, quem conseguir transpor as gargalhadas proporcionadas pelo desempenho solto dos atores, então guiados por forças próprias, verá que cada minuto de AO QUADRADO, encenação que se apresenta abertamente cômica, contém discussões pertinentes, versa sobre alguns dos grandes temas dos quais falei no começo, e pelos quais tanto me interesso. Amor, dissimulação, ódio, tolerância, sexualidade, cegueira religiosa, tudo está lá, muito bem disfarçado pelos trejeitos do elenco, que se beneficia da abertura que o riso provoca para penetrar no público, para discutir assuntos de maneira tão ou mais eficiente do que numa montagem carregada de solenidade. A forma como a Cia2 - Grupo de Teatro combina estas tipologias, faz com que, perdoem-me o preconceito reincidente, eu classifique AO QUADRADO como sendo bem mais do que uma comédia, ao fazer do riso um meio, não um fim.

5 comentários:

  1. Olá, Celo!
    A peça me surpreendeu, pois não esperava tão boa unidade, apesar de seu caráter fragmentado. Destaque para as atuações dos talentosos Márcio Ramos e Vinícius Padilha.

    Abraçossss

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  2. Obrigado pela crítica do Ao Quadrado. Se bem que fica confuso saber onde começa a crítica de um espetáculo e onde termina a crítica de outro. Meio datado, mas enfim... Triste mesmo é ver que ainda existem pessoas que não conseguem fazer críticas apontando soluções. Falar do que é ruim até minha sobrinha de 08 anos faz. E outra, comparar as peças? Nossa... triste mesmo. Se ainda vc tivesse um trabalho artístico decente (coisa que não posso falar, vide Família Felizes se Parecem)eu me preocuparia com tuas palavras. Mas como não tem... Acho que não preciso me preocupar.
    Abraços,
    Márcio Ramos

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  3. Olá,

    Desculpe Márcio, mas acredito que tu se equivocou. Meu texto não é uma crítica, até porque não tenho bagagem para isto, entendo de teatro apenas num nível raso, pura e simplesmente como espectador, o que me permite apenas uma resenha com minha opinião, que é para o que acredito que se presta meu texto. Dito isto, desculpe se te desaponto com o texto, não apontando soluções para uma peça sua anterior da qual não gostei, mas não posso apontar soluções pois não sou artista e nem conhecedor de teatro, portanto não me sinto confortável para dizer o que se deve ou não fazer, seria arbitrário da minha parte.

    Sobre a outra seara abordada. tenho plena consciência das fragilidades do filme que escrevi e dirigi, e soube ouvir atentamente todas as críticas feitas a este meu trabalho, que se prestou a um experimento do que poderia ou não fazer. Aproveito para te parabenizar por "Ao Quadrado", peça da qual gostei muito e que muito me satisfez trabalhar na divulgação, assim como ocorrerá em seus futuros trabalhos.

    Confesso apenas que me entristeceu um pouco este ataque à minha opinião, que se não é a melhor e mais densa do mundo, pelo menos ainda é minha e como tal gostaria que fosse respeitada, como respeito seu trabalho, gostando ou não, no qual vejo muito potencial.

    Abraço

    Ps.: E tu vai me desculpar, mas para ter opinião sobre determinada área não precisa estar inserido nela, basta sentir necessidade de expressá-la.

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  4. Não sei até que ponto me disponho a contratar pessoas p/ trabalhar e num momento seguinte ser "analisado" (já que a palavra crítica é profunda demais p/ esse momento).
    Abraços
    Márcio Ramos

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  5. Ficadica! Não consegui ver a peça, como havia te dito, Celo. Vamos esperar por próximas apresentações.

    Abraços!
    P.s.: make love, not war!

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