quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Quando reis são substituídos

O nome dela era Molly, e em algum momento de 2003 ou 2004 eu conheci sua câmara. Pareceu-me impossível não ceder e me contagiar com Molly's Chambers, primeiro single da até então desconhecida banda Kings of Leon. Assisti ao videoclipe da música, repleto de zooms e enquadramentos frenéticos, numa de minhas tardes juvenis regadas à MTV e guloseimas calóricas – e foi como descobrir o Santo Graal ou um congênere.

Pouco tempo depois os cabeludos e nada asseados “Reis de Leon” surgiram com Califórnia Waiting, quando garantiram lugar no meu panteão de deuses do rock. Olhando em retrocesso, no entanto, tal afirmação soa exagerada e precoce – porém não se deve creditar muita validade nas máximas de um jovem de 16 anos. De qualquer forma, permaneci fiel ao som dos rapazes de Tennessee, que com seu southern rock continuaram me agradando nos anos seguintes, ainda mais após o lançamento dos álbuns Aha Shake Heartbreak, meu favorito (que inclui as fantásticas Slow Night, So Long, King of the Rodeo, The Bucket e Milk), e Because of the Times.

Em 2009 minha relação com Kings of Leon foi posta a prova após Only by the Night. O quarto disco dos Followill me soou estranho, dissonante à seus trabalhos anteriores. Ainda que Sex on Fire continuasse me empolgando após algumas audições, o álbum em geral me soava correto demais, assim como os vocais de Caleb e suas guitarras somadas às de Matthew. Com o show da banda no recente SWU a constatação de que o reinado deles não deveria durar muito me pareceu inevitável. Impressão que se confirmou com o recém lançado Come Around Sundown.

Com Come Around Sundown o Kings of Leon inaugura uma nova vertente em sua sonoridade, aque pode ser classificada como “clean rock”. Ainda mais que em Only by the Night, os Followill entregam composições lineares, pouco inspiradas e, em alguns casos, até mesmo chatas. Analisando a trajetória da banda com maior atenção, ouso em dizer que houve uma clara ruptura que a descaracterizou, uma linha que hoje a divide entre dois grupos distintos – o que pode ser percebido até mesmo no visual de seus integrantes. Ouso novamente em indicar que a ruptura sonora, esta linha divisível que mencionei, se chama Use Somebody.

De qualquer forma, sigo admirando o Kings of Leon – mas me refiro àquele grupo que para mim morreu em Because of the Times. No entanto, a coroa que uma vez entreguei à esses monarcas agora pertence ao Kings of the Convenience, duo de indie folk norueguês que um estimado Duque me apresentou. Não que a sonoridade desses auto-proclamados reis seja semelhante ou que se possa traçar algum paralelo entre ambos, porém o Kings of Convenience mantém através de seus álbuns algo que o Kings of Leon perdeu já tem algum tempo. A autenticidade.

3 comentários:

  1. Kon, que post bacana.

    Bom, por mais que eu seja um apaixonado por música, entendo pouco ou quase nada da mesma, só me detenho mesmo no que me fala direto ao coração, ou o que me chama a atenção quase como se estivéssemos destinados um ao outro. Fatalismos à parte, entendo sua frustração com "Kings of Leon". Eu gosto da banda, moderadamente, em parte, justiça seja feita, por que nunca me detive muito, nunca parei de fato para curtir o som, me limitando ao primeiro CD. Mas disse que te entendo, pois este pesar que tu sente com relação ao "Kings of Leon" é o mesmo que sinto com respeito ao "Placebo" que, com seu último trabalho, deu uma decaída, numa carreira até então, pelo menos para mim, irrepreensível. Mas as novidades estão aí, e reforçam a máxima: "rei morto, rei posto". Ainda bem.

    Abraços e parabéns pelo texto.

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  2. Olá, Kon!
    Sabe, difícil negarmos a qualidade do que antes era irreparável.

    Abraçossss

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  3. Concordo em gênero, número e grau com você, Conrado. O novo cd da banda já não garante o status monárquico. Vou te confessar algo que irá desapontá-lo. Nunca fui tão fã dos reis. Sempre ouvi com prazer a sua sonoridade, mas desde o início, os achei uma "clean band", buscando um lugar ao sol, porém caindo na mesmice de pop rock que queria ser indie. Gostava muito de sua vertente folk e caipira de ser, quando desejavam revolucionar o cenário texano de existir. Enfim, o novo álbum não é legal realmente, mesmo gostando da música "Mary" e mesmo achando o primeiro cd um dos melhores de todos os tempos. Sim, estou sendo um adolescente passional de 16 anos. Excelente resenha! Parabéns! Mr. Duque (o estimado). PS.: Obrigado pelo elogio!

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