domingo, 12 de junho de 2011

O cinema americano Na Mira da Morte


Na Mira da Morte, estreia do aclamado crítico e teórico Peter Bogdanovich como realizador, nos agora longínquos anos sessenta, não poderia ter sido mais promissora. Peter era um dos diretores que amava (acredito que ainda ama) acima de tudo o cinema americano, em oposição à alguns de seus contemporâneos que, provavelmente pela ânsia em modificar a qualquer custo o status quo da então falida produção cinematográfica do país, cometeram pecados, especialmente no que diz respeito ao rebaixamento do cinema estadunidense. Este debute é uma homenagem aos gêneros que provavelmente povoavam seu imaginário cinéfilo, além de crítica expressiva ao público que, ele sim, segundo o ponto de vista do cineasta, estava provocando a modificação do cinema americano.

Boris Karloff, mítico intérprete, na época vítima do ostracismo, faz o protagonista de Na Mira da Morte, Byron Orlok, um ator dos idos tempos de ouro do cinema de terror que, não vendo mais propósito em atuar, opta pela aposentadoria, sob os protestos dos produtores que provavelmente faziam algum dinheiro com filmes ruins, apenas por que eram protagonizados pela legendária figura. Qualquer semelhança entre realidade e ficção não é mera coincidência. Em paralelo, desenrola-se a trajetória de Bobby, o arquétipo do americano médio, de vida confortável, fã de armas de fogo, parte de uma família que mais parece a Dor-Ré-Mi, ou seja, um cidadão acima de qualquer suspeita, mas que começa a ter ideias estranhas (segundo definição própria) e sai matando para aplacar uma ânsia que possivelmente nem ele consegue explicar.

O filme é uma vigorosa representação dos procedimentos e figuras cinemáticas considerados anacrônicos e que se esfacelaram perante o ímpeto da audiência por novidades. É uma bela homenagem ao clássico cinema de gênero americano e a uma de suas figuras mais emblemáticas, acondicionada nesta visão pessimista da fração mais importante para que o cinema, ou qualquer outra forma de arte, sobreviva: o público e sua capacidade de entrega. Peter Bogdanovich parecer dizer que poderiam mudar tudo na indústria de cinema americano, desde os nomes, a política de estúdios e o star system, elementos que sempre guiaram esta verdadeira instituição cultural ianque, porém mudar a visão do público e seu crescente desinteresse e apatia seria o maior obstáculo, provavelmente intransponível. Uma das últimas cenas, em que representação e realidade se encontram para sublinhar a importância do imaginário na fruição do espetáculo, é das mais simbólicas, nesta tentativa de mostrar à audiência que havia algo mais no cinema, e que sem ele, o público, e sua disposição de entrega à magia da sétima das artes, a tela seria somente um espaço branco preenchido de luz, pronto para ser utilizado "mortalmente" por algum maníaco qualquer.

2 comentários:

  1. Olá, Celo!
    Boa, fica a dica.

    Abraçossss

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  2. Este filme me espera desde que li "Como a geração sexo, drogas...". Depois do seu texto, subirei algumas posições na lista de próximas experiências cinematográficas. Espero uma ótima sessão.

    Abraços, Celo!

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