terça-feira, 14 de junho de 2011

Sofia faz de Um Lugar Qualquer, um lugar especial


Sofia Coppola poderia ter se recolhido confortavelmente à sombra do pai, Francis Ford Coppola, um dos mais importantes diretores de cinema da história. Também poderia ter se rendido perante as críticas negativas de sua atuação em O Poderoso Chefão 3, e decidido nunca mais pisar num set de filmagem. Mas não, ela quis ser diretora e ainda ostentar o sobrenome famoso. Tem se saído muito bem desde então, salvo um que outro equívoco, algo natural na carreira de qualquer um. Seu mais recente filme, Um Lugar Qualquer, iniciou carreira internacional de maneira controversa: venceu o Festival de Veneza, que na ocasião tinha como presidente do júri o ex-namorado de Sofia, Quentin Tarantino. Teria havido favorecimento a ela? Mais uma vez a cineasta teve de conviver com sugestões de que sua exitosa carreira está mais ligada aos grandes nomes que a circundam, do que necessariamente ao seu talento. Bobagem, Sofia tem brilho próprio.

Em Um Lugar Qualquer, Stephen Dorff interpreta Johnny Marco, um ator que vive no mítico Chatêau Marmont, hotel em que são permitidas as extravagâncias a que os astros de cinema e outros artistas são afeitos. Sua vida parece vazia, ele passa seus dias fazendo o que seus agentes orientam, indo a encontros cansativos, a festas chatas e andando aborrecido com sua Ferrari pelas avenidas de Los Angeles. Ele cansou, tem tudo e não precisa de nada, vive num estado em que seus desejos são prontamente atendidos, e isso tende a fazer com que, pelo menos a longo prazo, as coisas percam valor. A entrada de sua filha, interpretada pela carismática e talentosa Elle Fanning, de mansinho acende uma luz para Johnny, mas isto não é investigado de forma marcante por Sofia, ficando todas as emoções e transformações que os personagens sofrem ao longo do filme no sempre bem-vindo campo das sutilezas. Menos é mais, Sofia Coppola sabe e aplica bem isto. 

Tratado por seus detratores como uma tentativa canhestra de mesclar cinema independente americano com um tipo de narrativa mais européia (aliás, ataque constante dos que não gostam do cinema de Sofia), Um Lugar Qualquer é belo exemplar de um cinema que investiga personagens de dentro para fora, que aposta em tempos mortos e situações desprovidas de um sentido de “evento” para tratar suas figuras com mais humanismo, não cobrando delas ações e reações constantes. Sofia Coppola possivelmente terá de ouvir comparações e gracinhas durante toda vida, mas não há dúvida que seu cinema tenha vigor muito particular, que sua autoralidade seja fruto do talento que de fato possui, e não do sobrenome que carrega, de vez em quando certamente como um fardo que, mais do que lhe abrir portas,  constantemente cega os que não conseguem perceber sua pessoal e relevante visão artística. Sofia não é apenas filha de Francis, é uma Coppola por seus próprios méritos.

6 comentários:

  1. Olá, Celito!
    Bom texto. Acredito que o único filme que vi de Sofia foi "Encontros e Desenconstros", o qual já nem lembro direito, dado a quantidade de anos passados desde minha visita à ele. As críticas negativas de alguns de seus filmes meio que afungentou o "Rafael espectador", porém tropeços, como bem citado por ti, são normais numa carreira, mesmo esta cinematográfica.

    Obrigado pela dica,
    Abraçosss

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  2. Rafa, devo uma revisita a "Encontros e Desenconstros", filme que na época em que vi, não me pegou muito. Quem sabe agora, pretensamente entendendo mais a proposta estética da diretora, eu não vá achá-lo, como muitos, um filmaço?

    Abraços

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  3. É...a mim cegou, de fato. Mas não pelo fato dela ser filha de quem é e por possíveis cobranças e comparações. Mas porque definitivamente não consigo apreciar sua forma de filmar, escrever e tudo o mais.
    Esse filme em especial pra mim é uma tentativa muito mal resolvida de um non sense com desejo de um dia virar cult.
    Não vejo graça nos takes mais longos e falados..nos diálogos vazios ao meu ver,numa fotografia tão pretenciosa quanto o roteiro faltoso e capenga.
    De todos os filmes realizados pela Sofia C., esse foi o que menos gostei, sem dúvida.

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  4. Oi Carol,

    Certamente temos visões antagônicas a respeito de "Um Lugar Qualquer", pois justamente os pontos que te desagradam são, na minha opinião, a base de uma narrativa engenhosamente galgada na negação do senso de evento ou dos rompantes emocionais.

    O impotante é esta discussão construtiva, que os comentários nos proporcionam. Obrigado pela contribuição.

    beijos

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  5. Com toda certeza Marcelo, o que importa é essa oportunidade de discurtirmos, expormos nossos pontos de vista a serviço de algo construtivo.
    bjs

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  6. Olá, Celo!

    Sou partidário da visão da Carol. Gostei muito de "Encontros e Desencontros" e o filme me disse ainda mais quando o vi uma segunda vez. No entanto, "Virgens Suicidas" e "Um Lugar Qualquer" não me agradaram. Como já te disse, vejo "Um Lugar Qualquer" como um filme vazio sobre o vazio. Não compreendo as cenas longas e contemplativas para um universo que já estaria explícito em um take curto.

    De qualquer forma, mais uma vez concordo com a Carol: o que importa são as oportunidades de discutirmos!

    Grande abraço!!!

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