segunda-feira, 6 de junho de 2011

Tolas Escravas da Vaidade


Na sociedade obcecada pela imagem em que vivemos, são abundantes os exemplos de pessoas que chegam aos extremos para manter a aparência de outrora, que a inevitável passagem do tempo teima em modificar. De quando em quando, aparecem casos de gente que, em busca de uma fonte da juventude particular, apela exageradamente para métodos reconhecidos pela comunidade médica, e outras artimanhas menos lícitas para driblar rugas e marcas de expressão. É triste esta desenfreada procura pela jovialidade eterna, pois ela expõe as feridas de uma coletividade que confere valor apenas ao que é bonito, presumindo-se aí, com uma boa dose de preconceito, que só há beleza na aurora dos verdes anos.

Escravas da Vaidade (parabéns à distribuidora, que “belo” título em português), do chinês Fruit Chan, fala exatamente desta doentia corrida contra o tempo, praticada aqui por uma atriz crente que seus problemas afetivos, as puladas de cerca do marido, e sua baixa auto-estima, são culpa de seu envelhecimento, mesmo que necessitemos apenas de uma olhadela para notá-la como bela mulher, certamente cega ao que o espelho lhe mostra. Os atores, estes seres muitas vezes egóicos, parecem afetados particularmente por esta síndrome da não aceitação do natural transcorrer do tempo, e, numa rápida pesquisa pela memória, encontrarmos diversos exemplos deste comportamento no métier. Neste tocante, Fruit Chan não poderia ter escolhido profissão melhor para sua protagonista.

Qing, esta atriz que se contorce de um saudosismo doentio sempre que vê reprises da novela que participou no início de sua vida adulta, busca a ajuda da Tia Mei, exótica mulher que prepara bolinhos ainda mais excêntricos que prometem, além do estancamento dos efeitos do tempo, um retrocesso aos primórdios do físico da mocidade. O grande choque é dado pelos ingredientes com que Tia Mei prepara a iguaria milagrosa, uma pancada para os mais sensíveis ou para as gestantes (?), como previne a capa do DVD nacional. Não convém ir além para que não se estrague a experiência dos que ainda não viram.

Título certamente condenado às prateleiras mais escuras das locadoras, ou ao limbo dos lugares menos privilegiados dos sebos, Escravas da Vaidade é um filme bastante original em seu enfoque, e mordaz por conta do nível desta discussão acerca das práticas a que as pessoas estão dispostas pelo retorno da efêmera juventude. Originalmente parte integrante do coletivo de médias Três Extremos, que propunha filmes de horror (ótimos por sinal) vistos através das lentes orientais, Escravas da Vaidade funciona ainda mais na versão estendida, por ter amplificada sua visão particular deste entorno que valida apenas os mais tenros e joviais, e por permitir que o diretor Fruit Chan exiba, com ainda mais elegância, tanto seus movimentos de câmera, quanto sua doce inclinação pela exposição do sangue e da crueza do nosso comportamento selvagem em busca de aceitação. Ou alguém ainda duvida que tenha gente (homens e mulheres) disposta a tudo, a literalmente tudo, para rejuvenescer uns bons anos?

3 comentários:

  1. Tão curioso quando o média que se tornou longa é o lançamento do filme no mercado nacional... O filme é realmente muito interessante e bem realizado, suscita questões tão em voga nos tempos de hoje de forma macabra e com muito humor negro. Grande filme pouco conhecido!

    Abração, Celo!

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  2. N Rede Brasil começei a ver o filme,não tive estômago para ir até ao final, o aborto da dolescente, nú e crú, não e´para qualquer pessoa assistir , o prédio sinistro, os bolinhos, tudo móbido, não indico para os + sensíveis e gestantes.

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  3. Olá, Celo!
    Assisti apenas a versão média que é excelente. Por este motivo, assim que puder e a preguiça me deixar, verei o longa que, provavelmente, é ainda melhor, como exposto por ti no texto acima.

    Abraçosss

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