segunda-feira, 30 de maio de 2011

The Tramps Entrevista: André Setaro


Dando continuidade à série de entrevistas com críticos de cinema, exclusivamente concedidas ao The Tramps, falamos com André Setaro, que há muitos anos faz do cinema sua paixão, e a quem aproveitamos para agradecer pela colaboração.

ANDRÉ SETARO
Crítico de cinema do jornal TRIBUNA DA BAHIA (Salvador), da revista eletrônica TERRA MAGAZINE, e Professor do Departamento de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, onde ensina OFICINA DE COMUNICAÇÃO AUDIOVISUAL E LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA. Publicou recentemente um box com três livros denominado: ESCRITOS DE CINEMA: TRILOGIA DE UM TEMPO CRÍTICO (Azougue/Edufba).

 Sigam o blog do André Setaro: http://setarosblog.blogspot.com/


________________________________________________

• Como nasceu em você a paixão pelo cinema?
Minha paixão pelo cinema nasceu indo ao cinema nos tempos áureos da década de 50, quando a produção comercial tinha qualidade e não se assemelhava ao lixo contemporâneo. Sou formado pelo cinema de gênero, mas, adolescente, vim a entender, vendo Antonioni e Bergman, que o cinema também era uma expressão artística.

• Qual é o sentido de ser crítico nos dias de hoje?
Se, antes, ia ao cinema todos os dias, atualmente sou muito seletivo. Vejo mais em DVDs. A crítica é sempre arrogante, dona da verdade. É preciso mais generosidade, e o crítico deve ser, antes de tudo, um leitor intermediário entre o espectador e a obra cinematográfica. Diria um intérprete privilegiado.

• Qual sua posição frente a nova crítica de cinema, que germinou na era dos blogs e das revistas virtuais?
Há excelentes revistas virtuais, com gente séria e competente: Contracampo, Cinética, Polvo etc. Mas há também muito lixo no espaço virtual. O tempo se encarregará de pô-lo na lixeira do infinito.

• Como vê o academicismo de certas linhas de pensamento na crítica cultural? Acredita que a dissecação de um filme, tornando a análise o mais objetiva possível, tende a enfraquecer a importância da análise subjetiva?
Sim, há uma tendência a cientificizar a análise, principalmente uma crítica que vem da academia. Alguns chegam a analisar o filme como um cientista diante de um rato no laboratório. E a emoção, onde fica? A emoção é fundamental.

• Quais são seus críticos de cinema favoritos? Os de outrora, que influenciaram ou ainda influenciam seu trabalho, e os de agora, que acredita sustentarem com talento a causa da crítica de cinema.
Atualmente, gosto muito de Inácio Araújo. Antes, Paulo Emílio, Walter da Silveira, José Lino Grunewald, Moniz Viana etc.

• É célebre a história de Antonio Moniz Vianna parou de escrever quando da morte de seu maior ídolo, John Ford, pois acreditava que nada tinha mais a acrescentar como pensador diante da crise criativa contemporânea. Qual diretor cuja morte já lhe provocou semelhante desalento?
É verdade. Li no próprio Correio da Manhã, onde Moniz escrevia. Nenhum diretor me provocou desalento semelhante.

• A perda de espaço de textos críticos nos veículos impressos é sintoma da falta de interesse público, ou a busca ávida dos veículos pela adequação a tempos de pouca reflexão?
A perda de espaço se vincula à falência da cultura literária e a preguiça mental da arte de ler.

• Discutir "comércio versus arte" ainda é válido quando percebemos qualquer cinematografia?
Sim, embora seja ponto pacífico que se o filme é uma arte o cinema é uma indústria.

• Como vê o cinema brasileiro atual?
Acossado pela exigência da captação de recursos e submetido aos ávidos gerentes de marketing das empresas e sem possibilidade da criação de filmes mais inventivos.

3 comentários:

  1. É uma honra poder contar com tão rica contribuição ao nosso blog. Particularmente, sou muito apreciador dos dizeres de Setaro acerca do cinema.

    Abraços

    ResponderExcluir
  2. Olá, Setaro!
    Muito agradeço sua participação de tamanha valia ao espaço que dedicamos à cultura e suas tão ricas reflexões.

    Abraçosss

    ResponderExcluir
  3. Grande contribuição, sem dúvida!
    Bato na mesma tecla: esta série de entrevistas é uma maravilha.

    Grande abraço!

    ResponderExcluir