sexta-feira, 13 de maio de 2011

Mostra #05 - Hiroshima Meu Amor


A última noite da Mostra 1959 - O Ano Mágico do Cinema Francês começou meio desajeitada, já que o responsável pela projeção deu início a ela sem que habilitasse as legendas em português. Saí então da sala, fui comunicar o engano, e neste ínterim algumas pessoas chegaram, beneficiando-se (pelo menos algo de bom) do imbróglio que atrasou em mais ou menos dez minutos o começo do filme. O exemplar da noite foi Hiroshima Meu Amor, de Alain Resnais, outro diretor que não fazia exatamente parte da patota de Godard e companhia, mas que nem por isso deixou ao longo dos tempos de gozar do prestígio que acertadamente lhe atribuem: o de um dos mais talentosos e importantes cineastas franceses.

Hiroshima Meu Amor inicia com uma sequência genialmente construída, uma fusão de imagens da cidade que teve sua população vitimada pela queda da bomba atômica, com a conversa de alcova de um casal, um arquiteto japonês e uma atriz francesa de passagem pela terra do sol para a gravação de um filme sobre a paz. Poucas vezes vi algo tão expressivo e tão dolorosamente poético no cinema. A partir daí, temos uma impecável construção fílmica que, além de brilhante e inventiva como narrativa do romance, é poderoso libelo contra os conflitos bélicos que afetam as pessoas em escala global. No cinema comumente memorialista de Resnais, somos intimados a não esquecer, a valorizar lembranças e a entender como elas auxiliam na modelagem dos seres e da história. Hiroshima Meu Amor é um filme complexo, onde todos os planos, olhares e gestos, são orquestrados rigorosamente sob a égide do artista formidável que é Resnais. Uma segunda visita à obra se faz necessária, seja pelo simples prazer de rever algo tão pungente e belo, ou mesmo a fim de perceber elementos que certamente escorregaram pelos vãos da percepção na primeira vez.

O colóquio posterior foi, mais uma vez, bem interessante e produtivo. Quem dera pudéssemos ter todas as semanas construtivas como esta foi. Aproveitamos para agradecer ao SESC Caxias do Sul, que nos possibilitou este contato com filmes tão importantes, e as posteriores trocas de conhecimento, das quais por vezes fomos condutores, e a todos que compareceram a estas sessões do imprescindível cinema francês.

2 comentários:

  1. Mais uma pérola Marcelo! Eu adorooo "Hiroshima meu amor". Acho lindo e te parafraseando: poético sobretudo!!
    Engraçado que não sou fã do Resnais, mas esse filme é O FILME!!
    A impressão que tenho, é que décadas se passarão e ele continuará preservado, consagrado, endeusado!

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  2. Olá, Celo!
    Pena que não pude assistir, pois tenho grande curiosidade. Bela semana cinematrográfica organizada pelo SESC. Parabéns.

    Abraçosss

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