sexta-feira, 13 de maio de 2011

Mostra #04 - Pickpocket


Diferente dos diretores vistos anteriormente na Mostra, Robert Bresson não estava debutando no cinema ou mesmo ainda tateando por seus primeiros filmes em 1959, já tinha 25 anos de carreira quando do lançamento de Pickpocket. Há quem diga que ele é uma espécie de pai da nouvelle vague, um guru que precocemente carregaria alguns dos substratos da nova onda, antes mesmo que ela servisse de estandarte para os jovens turcos da Cahiers du Cinéma. Bresson sempre foi um formalista rígido, e sua convicção no trabalho com não atores e linguagem minimalista agradava André Bazin e a maioria de seus pupilos.

Pickpocket surge então em meio a eclosão do movimento, ao turbilhão revolucionário causado pela nouvelle vague. Seguindo a economia que esteticamente já pautava suas obras, Bresson cria em Pickpocket um conto sobre a moralidade, os crimes e os castigos vistos através dos olhos de Michel, habilidoso batedor de carteiras. Como de costume, Bresson trabalha com não atores. Há uma espécie de desconforto dos que não atuam por profissão, que é canalizado de maneira orgânica e hábil pelo realizador como estado de espírito e atributo definidor dos personagens. Bresson não se importa muito com a geografia dos espaços, dando especial atenção às suas desiludidas criaturas, sem qualquer traço de paternalismo ou algo do gênero. Roubar carteiras é um meio de subsistência para Michel, mas ele não o faz pela recompensa financeira, e sim para se sentir vivo, para conferir alguma textura a sua existência. Percebemos então que todas as figuras de Pickpocket são assim, como que levadas por uma enxurrada, em busca de algo em que se agarrar para sobreviver.

A conversa que sucedeu a exibição foi ótima, a melhor até agora, justamente por que contou com uma boa interação da plateia. Conversamos bastante sobre o filme, sobre Bresson, e quando nos demos conta já discutíamos Resnais, Cidadão Kane, neo-realismo italiano, cinema americano e outros assuntos que espontaneamente se infiltraram, assim como acontece nas boas conversas, em que um contexto emenda outro. Hoje é o último dia da Mostra, com a exibição de Hiroshima Meu Amor, de Alain Resnais. Espero por vocês lá às 19h.

Um comentário:

  1. Olá, Celo!
    Muito bom quando uma obra leva a uma dialética ampla, se fronteiras.

    Abraçossss

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