terça-feira, 20 de março de 2012

Em busca de Uma Vida Melhor


Responsável pela indicação do até então desconhecido Demián Bichir ao Oscar de Melhor Ator, ombro a ombro com nomes reconhecidos da indústria cinematográfica, Uma Vida Melhor se desdobra sobre o velho problema da imigração ilegal nos Estados Unidos. Considerado um oásis, o solo estadunidense atrai anualmente milhares de imigrantes, e vários deles entram ilicitamente pela fronteira com o México, atravessados pelos “coiotes” e largados à própria sorte na “terra das oportunidades”. Na carona desta movimentação migratória (e de outras) surge, se esgueirando, a xenofobia que ameaça a integridade da globalização propagandeada por aí. 

O jardineiro Carlos é acossado pelo fantasma da extradição enquanto cuida do filho adolescente que flerta com a criminalidade. Gangues recrutam garotos para suas fileiras, e encontram facilidade ao lançarem iscas de força e poder justamente nos grupos vulneráveis compostos por jovens em formação que não querem o mesmo destino pobre de seus progenitores. Claramente reverente a Ladrões de Bicicletas, clássico neo-realista de Vitório De Sica, do qual pega emprestados diversos elementos e até situações (como o desespero do pai que tem roubado seu meio de subsistência), Uma Vida Melhor se ressente de mão diretiva menos hesitante e da fuga mais competente de alguns estereótipos e clichês, estes que volta e meia surgem enfraquecendo o campo dramático. Por outro lado, não opor ricos e pobres, evitando ainda a aderência à moda reducionista da vilanização americana, é um dos evidentes acertos do filme. 

O diretor Chris Weitz, conhecido do grande público por American Pie – A Primeira Vez é Inesquecível, e mais recentemente A Saga Crepúsculo – Lua Nova, imprime olhar maduro à história de Carlos. Porém, sua reticência em abraçar com mais energia certos desdobramentos, prejudica sensivelmente o que poderia alcançar maior ressonância. Demián Bichir, por sua vez, abraça vigorosamente a tarefa de sustentar a narrativa e as figuras que gravitam em torno de seu personagem, num trabalho cujo brilho é totalmente merecedor das láureas que vem recebendo. A despeito de suas inconstâncias, Uma Vida Melhor habita longe das obras ocas e voltadas apenas ao entretenimento, pois resvala também na complexa questão da herança cultural, esta entidade desfigurada e nebulosa principalmente aos jovens que nasceram longe de suas raízes. Em suma, um bom filme, pertinente, só não grandioso por que se apequena frente às temáticas que explora.


Publicado originalmente no Papo de Cinema

2 comentários:

  1. Olá, Celo!
    Nem só de arte vive a sétima arte ¬¬.
    Assim que voltar a assistir filmes (nem colocarei aqui como "mais filmes"), visitarei tal obra.


    Abraçosssssssss

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  2. Olá, Celo!

    Este filme, para mim, está com seu ator. Tanto que tento me lembrar de outros pontos que me conquistaram durante a sessão e não me recordo de nada que não esteja associado à interpretação do protagonista. Um grande ator, que espero que venha a ter uma boa carreira pela frente.

    Quanto ao filme em si, a convencionalidade da abordagem ao tema me deixou cansado. Tem cores muito bonitas, no entanto.

    Um abraço, Celo!

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