domingo, 6 de maio de 2012

A Árvore do Amor e a poética dos enamorados


Em A Árvore do Amor, durante a revolução cultural promovida na China a partir de 1966, pelo então líder Mao Tsé-Tung, a estudante ginasial Jin é enviada para reeducar-se no campo, assim como tantos outros jovens privados da vida urbana em prol do ideário comunista. Recebida numa família que a trata como filha, ela conhece, em meio a histórias do estranho espinheiro que dá flores vermelhas, seu grande amor, um oficial da estação geológica operacional na cercania. Sun é esse homem, filho de gente influente no partido (garantia de vantagens). Jin, por sua vez, é de família posta à margem pelas convicções políticas de seu patriarca, direitista encarcerado.

Mais conhecido do grande público por seus épicos wuxia (gênero chinês por excelência que mistura fantasia e artes marciais) o diretor Zhang Yimou reconstrói em A Árvore do Amor um importante período da história chinesa, marcado por transformações políticas e sociais, onde ambienta esse melodrama repleto de belas paisagens e propenso a lágrimas. Nele, o envolvimento da menina que necessita mostrar retidão se quiser abraçar a carreira professoral da mãe, com o jovem feito anjo da guarda pelo amor incondicional sentido. O que poderia desenrolar-se facilmente como versão oriental de Romeu e Julieta, afinal Sun e Jin são filhos de homens ideologicamente contrários, felizmente nem sequer resvala nesta aproximação com a obra do bardo.

Se há pecado em A Árvore do Amor é sua duração, pois aqui e acolá a contemplação excede-se ligeiramente. No entanto, isto não enfraquece substancialmente a beleza do relacionamento construído entre encontros fortuitos, pequenas espiadelas, olhares ávidos e a vigília típica dos enamorados.  Registrado num tom próximo ao sépia, tal fotograma envelhecido, A Árvore do Amor ainda sorve graça da paisagem campestre que lhe serve de cenário máster. Mas o filme de Zhang Yimou emociona mesmo é pela poética quase inocente desse amor jovial, espécime tão raro em tempos turbulentos quanto o florescimento em vermelho do espinheiro que, por natureza, deveria enriquecer-se em alvas flores.


Publicado originalmente no Papo de Cinema

3 comentários:

  1. Olá, Celo!
    Seu texto me fez pensar sobre como vemos a vida. Pois é, tudo é muito instantâneo e passageiro, ao passo que deixamos de lado a contemplação e reflexão. O culto a comunicação reserva ao seu conteúdo papel secundário na sociedade contemporânea. É uma pena.

    Abraçosss

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  2. Faço das palavras do Rafa, as minhas.."..tudo é muito instantâneo e passageiro". Árvore do amor emociona,nos faz justamente refletir sobre as sutilezas..

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  3. Celo!

    Tenho visão muito parecida com a sua, vejo muitos aspectos positivos que talvez sejam prejudicados pela longa duração do filme. No entanto, é mais um belo trabalho do Zhang Yimou, diretor que tem uma cinematografia linda - seja esteticamente ou através temas que aborda.

    Um abraço!

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