sábado, 19 de maio de 2012

Pra Frente Brasil, que pra trás não dá mais


Enquanto alguns teimam em relativizar o horror instaurado nos tempos da ditadura, volta e meia surgem novos capítulos desse passado brasileiro que não se deve esquecer, pois é importante à memória da nação. Nesse sentido, como exemplar fílmico de recorte histórico, Pra Frente Brasil assume expressivo papel de exumação, uma vez que captura inúmeros espectros da época citada. No lugar e hora errados, Jofre, na trama, é tido como possível comunista e levado aos porões onde a tortura era método para fazer inocentes e “culpados” falarem. Seu irmão Miguel e sua esposa Marta tentam encontrá-lo pelos meios legais, mas esbarram na dificuldade imposta pela polícia conivente, a mando das artimanhas ditatoriais.

O diretor Roberto Farias resgata o específico momento em que as desventuras da seleção brasileira de futebol por terras mexicanas, então à caça do tão sonhado tri-campeonato em 1970, serviram tal cortina de fumaça às barbáries militares na luta contra os “subversivos”. De início, teme-se que Pra Frente Brasil utilize como muleta essa relação entre a campanha do escrete canarinho e a caótica conjuntura político/social. Porém, felizmente, há emprego sábio e parcimonioso da justaposição, até mesmo como reforço de outros aspectos relevantes: o exílio, os colaboracionistas, as conivências, os desaparecimentos e as mortes que impeliram mancha indelével à bandeira que clama por ordem e progresso.

Tendo em mente a significância do famigerado período, é duro constatar a ineficácia da cinematografia nacional em explorá-lo satisfatoriamente. Pra Frente Brasil se distingue nesse cenário pela habilidade no retrato de um país sob cabresto, e a capacidade de ser fração elucidativa do todo, esse de difícil entendimento absoluto. Ao mostrar Jofre, Roberto Farias se refere aos torturados inocentes, assim como ressoa na luta particular de seus outros personagens a batalha dos marcados pelos anos de chumbo. E no país do futebol, enquanto o capitão Carlos Alberto Torres alçava a taça Jules Rimet, símbolo da glória brasileira no exterior, aqui corria sangue, se disseminavam o sofrimento e a coerção social, vergonhas nacionais marcadas para sempre na história deste país varonil.


Publicado originalmente no Papo de Cinema

Um comentário:

  1. Olá, Celo!
    Concordo com sua postura: a ditadura é um período negro na história brasileira, mas ainda assim, um período importante e que de forma alguma deve cair em esquecimento.

    Abraçosssss

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