quinta-feira, 15 de novembro de 2012

E a Vida Continua...


Desde o sucesso inesperado de Bezerra de Menezes: O Diário de um Espírito (2008) tem-se destacado um gênero no Brasil: o filme espírita. A afirmação veio com o estrondoso sucesso de Nosso Lar e os bons desempenhos comerciais de seus co-irmãos.  Não há dúvida, o cinema espírita vem garantindo sua fatia muito mais pela identificação do público com as tramas do que necessariamente por eventuais qualidades narrativas. Antes que as primeiras pedras venham, cabe um alerta: isto é uma crítica cinematográfica, propõe-se a análise da obra dos homens, não da suposta obra de Deus, ok?

Dito isso, E a Vida Continua... pega carona na onda, sem qualquer mérito enquanto cinema. Baseado num livro psicografado pelo médium Chico Xavier, que seria, por sua vez, ditado pelo espírito André Luiz, centra-se num relacionamento forçado entre dois pacientes terminais, a jovem Evelina e o já balzaquiano Ernesto, irmanados no infortúnio de uma doença, logo parceiros nas primeiras vivências além da vida. Juntos, aprenderão os estágios pós-morte, os conceitos da reencarnação e outros meandros do espiritismo.

O maior pecado de E a Vida Continua... é, exatamente, o caráter didático que o preenche. Ao passo em que os desencarnados são instruídos no novo plano, submetemo-nos, enquanto espectadores, a pílulas “elucidativas” da crença.  A música melosa e sentimentalista emoldura situações à beira do risível, soando assim, imagino, até mesmo aos seguidores dos preceitos legados por Allan Kardec. Eveline vê-se no centro de um melodrama dos mais chinfrins, com assassinatos, adultérios, submissões, ou seja, vícios e virtudes, encenados de maneira doutrinária.

As interpretações de E a Vida Continua... merecem capítulo à parte, pois todas em tons erráticos. Exemplo disso é o trabalho equivocado de Luiz Carlos Feliz como o marido da protagonista, cujo desempenho monocórdico em nada auxilia seu personagem de construção pífia. Cai na caricatura, sinal não só de ineficiência do intérprete, mas, e a julgar pela ruindade geral (vista também em atores como Lima Duarte, Ana Rosa, e outros), da evidente falta de tato na direção de atores.

E a Vida Continua..., do ator e diretor Paulo Figueiredo, não poderia ser mais desastroso, pois, sobretudo, preocupado em capitalizar sobre a fé e seus seguidores. Toscamente decupado, montado de maneira frouxa, de dramaturgia frágil, e nulo mesmo enquanto palestra religiosa, ele desmerece até a alcunha de “amador”, dadas suas inúmeras precariedades. O limbo da cinematografia nacional está de bom tamanho a algo assim.


Publicado originalmente no Papo de Cinema

Um comentário:

  1. Modismo no cinema é SODA!
    Todos querem a receita do bolo que deu certo.

    Abraçosss

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