sábado, 12 de janeiro de 2013

A Irmã da Sua Irmã


Entre as distinções aplicáveis ao cinema norte-americano contemporâneo, a que o separa entre independente e comercial talvez seja a mais comum – tanto que existem premiações específicas para cada um dos grupos. Considerando tal universo, A Irmã de Sua Irmã (2012), de Lynn Shelton, é um filme majoritariamente independente, ainda que seja protagonizado por uma estrela já absorvida pelo mainstream, Emily Blunt. Shelton é uma das entusiastas do que se convencionou nomear mumblecore, movimento do cinema indie estadunidense que preza por produções de baixo orçamento com temas cotidianos, interpretações e diálogos naturalistas. Ainda que não sejam regras, uma vez que não existe um manifesto “à la Dogma 95” com o mumblecore, todos os itens supracitados fazem parte de seu mais novo filme.

Em seu quarto longa-metragem, Shelton basicamente trabalha com um ambiente e três personagens, interpretados por Blunt, Rosemarie DeWitt e Mark Duplass – ator/roteirista/cineasta também ligado ao mumblecore, mais conhecido pelo filme Cyrus (2010). A relação do trio nasce quando Iris (Blunt) convida Jack (Duplass) para passar um tempo em sua casa de campo e superar a morte de seu irmão – sem saber que sua própria irmã, Hannah (DeWitt), já está no local tentando esquecer o fim conturbado de um relacionamento. Depois de se conhecerem e dividirem muito mais que algumas doses de tequila, Jack e Hannah são surpreendidos por Iris, que chega ao local para criar o improvável triângulo que dá o tom de A Irmã da Sua Irmã.

Lynn Shelton, que assina roteiro e direção do filme, aborda o cômico da relação do trio de personagens com uma proximidade elogiável. O que pontua a ligação dos três é a omissão de importantes fatos que sempre unem dois deles e separa um terceiro – Iris tem um segredo com Hannah sobre Jack, que por sua vez divide algo com Hannah que Iris não pode saber, e assim por diante. Algumas situações muito divertidas – e embaraçosas para os envolvidos – são desenvolvidas a partir dessa dinâmica, que em dado momento se torna insustentável pela proximidade do trio.


Ainda que tenha algumas saídas criativas, o filme acaba caindo em convencionalismos dos romances que envolvem triângulos amorosos. No entanto, o principal problema de A Irmã de Sua Irmã seja sua teatralidade. Ainda que o naturalismo aplicado à narrativa tragicômica perpetue todo o filme, como em cultuados indies recentes – vide Pequena Miss Sunshine (2006) e Juno (2007) – o espaço diminuto e o excesso de diálogos imprimem tons teatrais ao filme, tornando-o por vezes maçante e repetitivo. O charme da trinca de protagonistas poderia fazer valer a sessão, porém a única atriz que consegue maior destaque é Rosemarie DeWitt, que tem um papel mais complexo para desenvolver. Blunt e Duplass fazem o que podem, mas não atingem a credibilidade necessária para tornar seus personagens mais interessantes.


Diferente de seu filme anterior, Humpday (2009), no qual dois amigos resolvem protagonizar um filme de arte homoerótica para ganhar dinheiro, Lynn Shelton não tem conteúdo suficiente para validar sua obra. Fica a sensação de que os 12 dias de produção em uma belíssima paisagem campestre fizeram valer o esforço dos envolvidos no filme, mas não são igualmente divertidos para garantir uma boa sessão aos seus espectadores. 


Publicado originalmente no Papo de Cinema.

2 comentários:

  1. Oi Kon,

    Excelente texto, parabéns.
    Por uma questão de prioridades (e demandas) acabo me afastando deste tipo de filme, que sempre me soou simpático e delicioso de ver.

    Mesmo diante de suas ressalvas, confesso que fiquei curioso para assistir "A Irmã da Sua Irmã".

    Abração

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  2. Olá, Kon!
    Muito bem estruturado seu texto. Parabéns.
    Sobre o filme, é uma pena. Infelizmente, são bastante recorrentes histórias interessantes que caem na mesmice.

    Abraçosss

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