sábado, 5 de janeiro de 2013

Gotcha – Uma Arma do Barulho


É fato que certos filmes marcam infância e adolescência, ficando conosco numa espécie de sedimento afetivo/cinematográfico. Os da minha geração (nasci no início dos anos 1980) tendem a olhar para trás com carinho, sobretudo às clássicas sessões da tarde. Foi lá que conhecemos Ferris Bueller (Curtindo a Vida Adoidado), acompanhamos as aventuras dos meninos em Os Goonies, entre outras experiências definidoras. Lembro com especial saudosismo de Gotcha – Uma Arma do Barulho, longa protagonizado pelo ainda jovem Anthony Eduards (lembram de Plantão Médico?) e marcado pela beleza fulgurante de Linda Fiorentino.  Um dos meus favoritos daquela época imberbe, sem dúvida.

Nele, Jonathan é um rapaz impopular com as mulheres que desfruta a vida acadêmica entre as aulas e Gotcha (algo como “te peguei”), um emulador de espionagem no qual os competidores esgueiram-se pelo campus acertando seus “inimigos” com armas de paintball. Dos pais abastados ele ganha viagem pela Europa com seu amigo Manolo. Louco para fazer sexo, ver museus e nada mais, acaba envolvido com uma bela mulher numa trama de espionagem internacional. Jonathan precisa, então, utilizar suas habilidades no jogo para a atuação involuntária no mundo real dos agentes secretos, em óbvia metáfora sobre o crescimento, esta também evidenciada na concomitante descoberta sexual do protagonista.

Nos anos oitenta os americanos faziam bons filmes escapistas que entretinham de verdade, independente do absurdo em que eram calcados. Afinal de contas, um filhinho-de-papai que brinca de James Bond na universidade e esbarra durante a exploração do novo continente numa gata quase inalcançável, seu passaporte para um imbróglio dos demônios, é enredo bem nonsense, certo? Mas Gotcha – Uma Arma do Barulho busca tão e somente entreter, e consegue, mesmo os nem tão jovens e ingênuos assim. Claro, também há contra-indicações. Nas representações de cada papel (mocinhos, bandidos, etc.) reside um miolo revelador do pensamento preconceituoso americano a respeito da então geopolítica européia (num imaginário muito alimentado pelos anos de Guerra Fria).

O filme é uma obra de arte? Não, claro que não, tem momentos até bem deslocados, como quando Jonathan, em meio ao caos, resolve comer uma bela refeição americana, mistura de merchandising e patriotada bem vagabunda. Mas é divertido, leve e nem de longe aborrece, pois, mesmo nos momentos sérios, é permeado por aquele humor típico dos filmes americanos oitentistas feitos para consumo na puberdade. Com Gotcha – Uma Arma do Barulho aprendi inúmeras coisas, como, por exemplo, a nunca acreditar que uma linda mulher, com jeito e sotaque de espiã, possa se interessar por você apenas por não gostar de homens peludos. Óbvio, não é para levar a sério, mas a picardia remete ao tempo (nem tão longínquo assim) em que cinema de entretenimento para adolescentes e jovens adultos não era totalmente imbecilizante. 


Publicado originalmente no Papo de Cinema

4 comentários:

  1. Olá, Celo!
    Tenho vaga memória desse filme, mas lembro-me dele com carinho. Parabéns pelo texto.

    Abraçoss

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  2. Ahh, deu muita vontade de ver hehe. Eu tenho a impressão que irei me divertir!!
    Ótimo texto!! beijos

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  3. Carol, assista quando puder. :)

    O filme é tão bobo e ingênuo que chega a ser ótimo.

    beijos

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  4. Caro Marcelo, concordo com você plenamente que os filmes de hoje são imbecilizantes. Nossa, não tenho muito prazer em assistir os filmes de hoje, sem preconceito, mas estão cada vez piores. Desde 2011, que não me empolgo para assistir filmes.
    Gotcha, realmente marcou à minha infância aprendi o que é 'strudel' com esse filme. Nostalgia, tempos que não voltam, os atores é que digam, o mocinho que já etá calvo; a mocinha que já fora outrora hiper cobiçada. Mas, a lembrança é eterna. Bom, é isso que eu falo para às ex, para pular fora.

    Forte abraço Marcelo, linha de raciocínio excelente.

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