domingo, 20 de janeiro de 2013

Twixt


O novo filme de Francis Ford Coppola é estranho, para dizer o mínimo. Twixt começa pela apresentação de uma cidade interiorana, onde, assim como na localidade idealizada por David Lynch no seriado Twin Peaks, repousam mistérios e bizarrices. Falemos abertamente: Swan Valley é Twin Peaks genérica. E cabe ao narrador resumir com impostação vocal alusiva a seus colegas dos terrores B, as idiossincrasias desse lugar de aparências. Pronto, de início já sabemos o necessário sobre a urbe que abrigará, em breve, a sessão de autógrafos do outrora prestigiado escritor, então um reles autor de contos sobrenaturais (especialmente bruxaria), Hall Baltimore.

Baltimore logo conhece o xerife Bob LaGrange, oficial que lhe propõe escrever livro a quatro mãos sobre um caso de assassinato múltiplo ocorrido no passado. Chacina de crianças órfãs. Tragado pelo mistério, o escritor passa a vagar entre a realidade colorida e os sonhos desbotados. Nestes, é guiado por uma linda menina, Virgínia, e até mesmo por Edgar Allan Poe, o mestre dos contos de ficção policial com pitadas macabras. Como é do feitio de Coppola – e isso se observa bem na atual fase de financiamento dos próprios projetos, em Twixt temos diversos elementos narrativos que o descolam do estritamente concreto. É claro, a inclusão do onírico permite ao diretor polarizar ainda mais essa dicotomia real/irreal.

Twixt é um filme de mistério, com algo de gótico e que, aos poucos, vai descambando para o terror. As intervenções de Allan Poe visam iluminar a trama, e elas cumprem esse papel até de maneira incômoda, pois se entende como facilidade o personagem onisciente que entrega de bandeja, tanto ao protagonista quando ao espectador, as motivações da trama. A própria caracterização da cidade, pretensa a uma aura de instabilidade e segredo, fica tão e somente evidenciada nos tipos estranhos. Voltando ao paralelo, se Lynch conseguia fazer de Twin Peaks tão notável como seus moradores, Coppola acaba dependente da já citada narração inicial, insuficiente para o clima que busca (precisa) alcançar.

Em Twixt há, ainda, dados que chocam religiosidade, fanáticos e vampiros, sejam estes metafóricos ou, como queiram, literais. O filme guarda também uma pontinha de interesse na identificação entre as histórias de Baltimore e Virgínia. Mesmo com algumas inspirações na biografia de Coppola, a principal delas dizendo respeito a perda filial num acidente de barco, Twixt nunca alcança qualquer pessoalidade autêntica, a não ser aquela contida nas chamadas “curiosidades de produção”. Acaba refém da pequenez (no sentido pejorativo mesmo) e do acanhamento, soando preguiçoso. Poderíamos rotulá-lo “filme menor”, por falta de definição menos clichê e certa condescendência com seu brilhante autor. 


Publicado originalmente no Papo de Cinema

2 comentários:

  1. Olá, Celito!
    Pretendo marcar algumas sessões imersas nessa fase "autoral" do Coppola.

    Abraços

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  2. Rafa,

    Vale a pena encarar a fase mais "independente" do Coppola, oh se vale. Recomendo sobretudo "Tetro".

    Abração

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