quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Doses Homeopáticas #07


Como bem sinalizou minha colega de sessão, UMA DAMA EM PARIS ensaia algo próximo de INTOCÁVEIS, pois, da mesma maneira, aproxima imigrante cheio de problemas a alguém carente de cuidados. Bom que o paralelo fica por aí, nas linhas iniciais. No filme de Ilmar Raag, a estoniana Anne vai à França, após a morte da mãe, para cuidar de Frida. Chega lá tímida, acuada pela senhora a principio irascível e implicante, mas logo se fará peça importante na vida dessa idosa interpretada por uma Jeanne Moreau em plena forma artística, aos 85 anos. O plot é conhecido, mas a maneira com a qual Raag tenciona as relações para depois afrouxar os nós que as prendem é bastante engenhoso e resulta numa história bonita de amizade e compreensão mútua.


Sai da sessão de AUGUSTINE com a impressão de pouco ou quase nada ter entendido. Não que a história (o recheio) seja complicada, longe disso. Aliás, interessante tomar conhecimento dos estudos vanguardistas do Dr. Charcot para provar ao mundo a existência da histeria, patologia responsável por, noutros tempos, mulheres enfermas serem confundidas com bruxas e outras criaturas possuídas. Além da fotografia monocórdica, de imagem escura e sempre mediada por uma bruma estranha, o desenvolvimento da relação entre Charcot e sua paciente Augustine me soou insípido, assim como quase todos os demais. A obsessão do homem em choque com a histeria feminina, nem isso me pareceu suficiente para tirar AUGUSTINE de um lugar ao qual, infelizmente, não tive muito acesso.


AMOR PLENO é dos filmes mais fatigantes que vi nos últimos tempos. Terrence Malick retoma a estética de A ÁRVORE DA VIDA, com planos e imagens impressionantes.  Contudo, se no longa anterior (do qual gosto muito), inclusive o forte caráter metafísico era, no mínimo, coerente, pois ajudava a relacionar, num plano superior, o macro (criação do mundo) com o micro (dificuldades enfrentadas em família), aqui o americano coloca a beleza e a religiosidade a serviço de uma história rasa, disfarçada de epifania interminável. Malick pretende fazer de cada movimento uma espécie de revelação divina e, na soma, algo que sinalizaria a força originária do Deus que, no filme, castiga com vida de infortúnios sentimentais o homem “responsável” pela contaminação da terra, isso para citar apenas um dos moralismos dogmáticos apregoados. AMOR PLENO é chato e arrastado blá-blá-blá teofânico.


Parece não haver mesmo limites para a imaginação de Michel Gondry.  A ESPUMA DOS DIAS é, quem sabe, seu filme mais radical, levando em consideração a intrusão de objetos, animações e situações inusitadas, elementos esses em convivência harmônica e cotidiana no particular mundo moldado por alguém tencionado a resolver a maioria das questões no campo do simbolismo visual. Essa força criativa intensamente imagética suporta o drama, as metáforas e a transição entre a felicidade colorida e a dor pintada de preto e branco, aliás, excelente sacada para reforçar a ideia do ambiente externo enquanto refletor do interno. Ressalva feita à falta de concisão, sobretudo na terceira parte, e A ESPUMA DOS DIAS, ainda assim, é filme o suficiente para entreter e emocionar.


MEU MALVADO FAVORITO 2 está longe da originalidade, mas pelo menos não deixa cair a peteca levantada por seu antecessor. Todo blá-blá-blá sobre a contratação do protagonista por uma organização contra crimes globais e a missão de salvar o mundo não passa de cortina de fumaça para o núcleo real do filme: Gru (mesmo que não saiba) procurando uma namorada. Os minions continuam cumprindo muito bem a cota dos coadjuvantes imprescindíveis (essa quase regra das animações, sobretudo após A Era do Gelo). A trama pode até ser meio boba, mas a inventividade visual e o bom timing das passagens cômicas compensam bastante qualquer obviedade. 

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