O início de Qual é o nome do Bebê? tem diversos cacoetes típicos das comédias francesas.
Um narrador com tiradas “espertinhas” apresenta os personagens da trama que se
desenrolará a seguir. De maneira expositiva, ele traça o perfil de todos,
sobrando assim pouco espaço para que consigamos ao longo do filme construir algo
mais sobre essas figuras atreladas umas às outras, seja por parentesco ou
amizade. Sem dúvida, tal artifício é muleta narrativa e pode irritar aqueles
cansados do chavão estilístico.
Vincent (Patrick Bruel) comemora
sua primeira paternidade durante jantar em família. A inesperada confusão logo é
armada quando revela o nome escolhido para o bebê: Adolphe. Aos presentes
parece impensável que o futuro pai leve mesmo em consideração relacionar de
alguma maneira seu filho ao ditador responsável por milhares de mortes à frente
do terceiro reich. Entretanto é tudo chacota de Vincent (homem de direita),
feita deliberadamente para tirar o cunhado esquerdista do sério. O plano funciona
até demais, pois a festividade torna-se involuntariamente arena para diálogos
ferinos, repletos de ambição intelectual e política.
Mas o alvoroço inicial é na
verdade apenas estopim para outras discussões, ressentimentos entre casais,
opiniões até então recônditas, mágoas antigas ressoantes no íntimo daqueles que
as escondem pelo bem da convivência. Aos poucos a situação piora, segredos vêm
à tona, relações são postas à prova, e o que iria ser reunião entre congêneres
e amigos em volta da mesa marroquina, acaba acerto de contas. É uma bola de
neve crescente de percurso cada vez mais perigoso. Pena a sucessão de
problemáticas proposta pelos diretores Alexandre de La Patellière e Matthieu
Delaporte ser cansativa e refém da repetição.
Comédia torta e até certo ponto
pretensiosa (ensaia qualquer coisa sobre política, a reabertura de velhas
feridas francesas, entre outras tentativas), Qual é o nome do Bebê? passa na tela sem aborrecer, mas também sem
ofertar algo que o faça merecedor de um espaço generoso na memória. As figuras
possuem afetada profundidade, mas se afogam no raso de sua natureza ordinária. Claramente
disposto a mostrar a família como instituição inquebrantável, o longa tem lá
suas boas intenções e momentos de inspiração, contudo insuficientes para
torná-lo mais que razoável e inofensivo programa de domingo.
Publicado originalmente no Papo de Cinema
O típico filme razoável e completamente esquecível.
ResponderExcluirAbraços
Pois é, daqueles que não fazem mal algum, mas que também não saem de uma zona de conforto incômoda. Aspira a muita coisa e acaba soando de médio pra fraco.
ResponderExcluirAbraços