sábado, 21 de março de 2015

Doses Homeopáticas #40


FOXCATCHER não é um filme sobre luta, embora o embate físico seja o catalisador dos encontros. O que está em jogo ali é a formatação de um modo de pensar estritamente norte-americano, com aquele discurso patriótico que beira o fanatismo, a relação com armas de fogo, a necessidade de ganhar e superar limites sempre. O personagem do irreconhecível Steve Carrel condensa tudo isso, é um cara que precisou a vida toda comprar as coisas, as pessoas, o status e até mesmo as relações. Reclama da mãe que pagou um menino para ser seu amigo no passado, mas não hesita em adquirir por meio do dinheiro a posição de treinador e mentor, sobretudo do campeão olímpico que procura desvencilhar-se da sombra do irmão. Bennet Miller fez um filme assustador no que diz respeito aos comportamentos limítrofes daqueles que buscam a vitória ou incutir no outro suas próprias convicções. Não indicar esse filme à principal categoria do Oscar foi outro (grave) erro da Academia este ano. 


PSICOSE cresce ainda mais visto em tela grande. A obra-prima de Alfred Hitchcock se notabilizou com o passar do tempo por diversas questões. Temos uma protagonista que morre antes do meio do filme, algo bastante incomum; a grande cena do chuveiro, certamente uma das mais influentes da história, exemplo de montagem, de utilização de som, ou seja, uma aula de 44 segundos sobre as possibilidades cinematográficas; a atmosfera que toma conta do filme com as lentes se virando para Norman Bates, personagem imortalizado pela interpretação assustadora de Anthony Perkins; a clara influência do expressionismo alemão, sobretudo no que diz respeito ao jogo de luzes e sombras; o clima de suspense que não cessa; o desenho psicológico dos personagens, etc. Há muito que dizer desse filme que Hitchcock desenvolveu em meio a uma crise. Ele que sempre soube como levar seu público, como conduzir suas sensações para obter o efeito necessário, enfrentava dificuldades com a plateia. Até que resolveu, outra vez, basear-se num livro sem qualquer peso, extraindo dele uma das realizações mais importantes de sua filmografia, sucesso tanto de público quanto de crítica.


Em SE MEU APARTAMENTO FALASSE difícil é apontar o que há de melhor. Temos nele o texto e a direção impecáveis de Billy Wilder, diretor que durante toda carreira presenteou seus atores com personagens repletos de possibilidades, guiando-os entre as tramas muito bem arquitetadas de seus roteiros. Wilder entendia como poucos de timming, tanto cômico quanto dramático. Dificilmente as obras dele perdem o ritmo, pois há uma precisão muito rara na forma como suas histórias se desenrolam em relação ao tempo, seja ele o real ou o cinematográfico. Há também um time respeitável de talentos, desde Fred MacMurray, chefe inescrupuloso e machista, passando pela beleza e a vulnerabilidade da jovem Shirley MacLaine, chegando até a atuação irrepreensível de Jack Lemmon, talvez seu maior trabalho, como o homem que empresta o apartamento aos chefes em aventuras extraconjugais. O filme, nos mais das vezes uma comédia romântica, tem lá seus momentos de drama, sobretudo quando detido na fragilidade da ascensorista ludibriada pelo patrão e na solidão do clownesco personagem de Lemmon. Uma obra-prima.  

Um comentário:

  1. Desses, assisti apenas PSICOSE. Certamente, uma das maiores obras do cinema.
    Sobre os outros, já para a lista de futuras sessões.

    Grande abraço.

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