quinta-feira, 7 de maio de 2015

Doses Homeopáticas #42


Perto de completar 30 anos, DE VOLTA PARA O FUTURO felizmente continua o mesmo, o que nos mostra, entre outras coisas, como a qualidade do cinema norte-americano de entretenimento caiu de lá para cá. Tudo funciona na aventura de Marty Mcfly, garoto descolado que volta ao passado por conta de um acidente, tendo de remediar a situação cabeluda que coloca em jogo sua própria existência, além de descobrir como regressar. A gente tá careca de saber tudo que vai acontecer, mas, mesmo assim, fica apreensivo para ver se Marty conseguirá o improvável, ou seja, juntar os pais e atingir o raio da torre do relógio. O filme de Robert Zemeckis é tão bom de ver, ainda melhor em tela grande (como geralmente é, afinal cinema é cinema), que não se sentem suas quase duas horas de duração. Mal começa e já termina. Sinal, neste caso, de que a diversão proporcionada é das melhores, daquele tipo que o cinema ianque dos anos 1980 e 1990 era especialista. Não à toa, o DeLorean turbinado de plutônio é parte da memória afetiva de toda uma geração.


Confesso que esperava pouca coisa de KINGSMAN: SERVIÇO SECRETO. Os trailers não davam conta do quão divertido e esperto é o mais novo filme de Matthew Vaughn, ele que transporta a violência gráfica de Kick-Ass para o mundo dos espiões. As homenagens aos filmes de antigamente da série James Bond não poderiam ser mais escrachadas, pois, inclusive, verbalizadas por alguns personagens. A ameaça global, o vilão esdrúxulo, o agente secreto de terno impecável, as traquitanas (guarda-chuvas blindados, canetas com veneno, etc.), tudo busca fugir um pouco da seriedade contemporânea, dos Bournes e mesmo dos Bonds do século XXI. A ação, altamente improvável, possui efeitos ora cômicos, ora dramáticos, quando não uma soma bem afinada de ambos. Cabeças explodem, uma igreja vira palco para matança indiscriminada, e no meio disso o jovem desajustado que terá a chance de salvar o dia. O segredo aqui é acionar a suspensão de nossa descrença, o que o filme faz muito bem, já que todo absurdo faz sentido no mundo criado cinematograficamente por Vaughn, outra vez, com base num quadrinho de Mark Millar. Grata surpresa.


Só de ter filmado um western, gênero que sobrevive na atualidade em virtude de ocorrências muito esparsas, Tommy Lee Jones já merece elogios. DÍVIDA DE HONRA pode não ser um grande filme, talvez boa parte porque tenha dificuldades de relacionar os dramas com o entorno social, com a paisagem, como bem faziam os mestres de antigamente. Contudo, é muito forte a história da diligência que precisa levar mulheres psicologicamente abaladas (naquela época, consideradas loucas) para longe de suas famílias. Uma perdeu os filhos para a difteria, a outra jogou seu recém-nascido na latrina, e a terceira perdeu o juízo por causa dos constantes abusos do marido que a queria engravidar a todo curso. Hillary Swank interpreta uma solteirona que toma para si a missão. Já Tommy Lee Jones, além de diretor, se encarrega de dar vida a seu companheiro de jornada, um cara que demonstra sensibilidade e brios à medida que a viagem vai ficando mais e mais complicada. O oeste selvagem se encarrega de diminuir as esperanças. O filme foi praticamente despejado no circuito, em poucos horários e salas. Não é uma grande realização, mas certamente merecia um pouco mais de atenção.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Está aí um gênero que deveria ser mais bem explorado: o western.
    Sobre DE VOLTA PARA O FUTURO, entretenimento de verdade, sem menosprezar o intelecto da audiência.

    Grande abraço.

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