sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Crítica: Goodbye... Solo

Direção: Ramin Bahrani
Roteiro: Ramin Bahrani e Bahareh Azimi
Elenco: Souleymane Sy Savane, Red West, Diana Franco Galindo, Lane 'Roc' Williams, Mamadou Lam, Carmen Leyva.


Quando lançado há poucos meses nos cinemas norte-americanos, o drama independente Goodbye... Solo não despertou grande interesse por parte do público, mas teve considerável repercussão pelas diversas láureas que recebeu em premiações, e também através dos comentários positivos da crítica especializada. É surpreendente e animadora a aparição de tal produção no circuito brasileiro, destino que uma minoria de filmes independentes recebem em nosso país.

Logo na primeira sequência do filme conhecemos seus dois protagonistas e aquilo que guiará a dinâmica em suas relações: um senhor chamado William toma um táxi, onde o motorista é um simpático senegalês - o Solo do título. O primeiro faz uma proposta curiosa ao estrangeiro, pedindo que o leve, dentro de alguns dias, até uma afastada região, especificamente à montanha Blowing Rock, por uma considerável quantia em dinheiro. Solo passa a temer as intenções de William para realizar a viagem, já que esta é composta apenas pela ida.

Goodbye... Solo impressiona instantaneamente pela composição de seus atores principais, e ainda mais quando se conhece os processos com que os mesmos foram desenvolvidos. Não se percebem atores no filme, e sim um taxista chamado Solo e seu passageiro de nome William. Souleymane Sy Savane, intérprete de Solo, foi tempos atrás um comissário de bordo, profissão almejada por seu personagem, e Red West, que vive William, era amigo de Elvis Presley durante a escola e foi seu motorista particular por muitos anos. Ambos têm em Goodbye... Solo um espaço para demonstrar seus talentos até então não explorados, e não desperdiçam a oportunidade. Ramin Bahrani, roteirista e diretor do filme, trabalhou com seus atores durante meses a fio, desenvolvendo oficinas intensas com a intenção de conseguir credibilidade para seus personagens. Pode-se dizer com segurança que seu sucesso nesse quesito é evidente na produção.

O filme de Bahrani não é simplesmente sobre a dinâmica da estranha amizade entre Solo e William, embora esta seja uma das várias leituras que podem ser feitas. Goodbye... Solo mostra nos extremos da personalidade dos protagonistas o otimismo e pessimismo com que a vida pode ser levada, e então a narrativa do filme passa a ser construída, mostrando o velho suicida tendo que conviver com o taxista intrometido. Solo chega a constranger pelo modo com que se impõe e batalha para se aproximar de William – enquanto este reluta contra a aproximação -, mas as investidas altruístas do primeiro refletem apenas sua preocupação admirável e fora do comum para com o destino de um estranho.

A capacidade excepcional do diretor para o drama humano fica evidente no filme, onde ele aplica uma série de recursos que engrandecem a aparentemente singela história de dois homens e suas maneiras de encarar o mundo. Bahrani ainda expande sua trama inicial ao inserir questões sobre diferenças culturais e relacionamentos familiares, economizando em peripécias estéticas e de linguagem, decisão que beneficia o texto escrito por ele próprio juntamente com Bahareh Azimi.

Goodbye... Solo merece destaque entre o cinema de qualidade exportado pelos Estados Unidos nos últimos anos, e Ramin Bahrani ocupa posição importante ao lado de novos realizadores pensantes do país, como James Gray, por exemplo. Bahrani e Gray seguem vertentes particulares do mesmo cinema influenciado pelo neo-realismo italiano, retratando com humanismo as relações sociais contemporâneas através de um olhar sincero e muito original.

Os outros dois trabalhos de Bahrani compõem com Goodbye... Solo uma espécie de trilogia sobre a vida de estrangeiros nos Estados Unidos e a forma positiva com que os mesmos encaram o universo de que fazem parte. O próprio diretor, que apesar do nome é norte-americano, mencionou em entrevistas ter se sentido um estrangeiro durante parte da infância, já que seus pais são imigrantes do Irã. Sua empatia com os estrangeiros é também notável em seus dois outros filmes, Man Push Cart, de 2005, e Chop Shop, de 2007. Provavelmente seja justamente a visão singular e realista de Bahrani a responsável pelos diversos prêmios que o mesmo conquistou com seus filmes, incluindo o de Melhor Filme pela Crítica, por Goodbye... Solo, no Festival de Veneza em 2008, e por ser presença constante em festivais importantes como o de Sundance e Cannes.

Roger Ebert, renomado crítico norte-americano, é o responsável por um dos comentários mais elogiosos a respeito de Goodbye... Solo, quando escreveu que “onde quer que você viva, quando este filme estrear, será o melhor filme em exibição na cidade”, na mesma resenha onde diz que Ramin Bahrani, a mente por trás do filme, é “o novo grande diretor americano”. Confesso que não vi todos os filmes que atualmente estão em exibição nos cinemas, assim como obviamente não conheço todos os diretores contemporâneos dos Estados Unidos, mas a experiência com o filme de Bahrani é tão intensa e única que se torna impossível discordar de Ebert em ambas as colocações.


Texto publicado originalmente em www.cineplayers.com

2 comentários:

  1. Confesso que, mesmo tendo o hábito de ler muito sobre cinema, nunca tinha ouvido falar com muita ênfase sobre Ramin Bahrani e este seu filme, bastante laureado, como diz seu texto. É sempre bom conhecer estes cineastas novos, principalmente em meio a uma verdadeira indústria, como a dos EUA, que tem visto surgirem, a sua margem, os filmes americanos mais sigficativos da atualidade.

    Com diria o Rafa, dica anotada.
    Abraçoss

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