domingo, 6 de dezembro de 2009

Guerra ao Terror

Direção: Kathryn Bigelow
Roteiro: Mark Boal
Elenco: Jeremy Renner, Anthony Mackie, Brian Geraghty, Guy Pearce, Ralph Fiennes, David Morse, Christian Camargo, Suhail Aldabbach, Evangeline Lilly, Sam Spruell

Kathryn Bigelow vem fazendo sucesso com seu Guerra ao Terror, ainda mais depois de ele ter, recentemente, ganhado o Gotham Independent, um dos prêmios pré-Oscar da temporada. Andam falando que este é o filme definitivo sobre a guerra ao terror, sobre o embate bélico de, especula-se, motivos econômicos, que os EUA ainda trava com o Iraque, em nome da liberdade, dizem os estadunidenses. Visões ideológicas conflitantes a parte, é sintomática esta necessidade de se apontar “o filme definitivo sobre a guerra contra o Iraque”, como se a existência do tal filme fosse, de fato, definir alguma coisa. Então quer dizer que se existe um filme “definitivo”, ou seja, que define com exatidão as múltiplas facetas do conflito, não há necessidade de se discutir mais, certo? Não há necessidade de se criar qualquer outra obra cinematográfica que fale sobre esta guerra, já que existe algo que a define. Esta busca pelo “filme perfeito” sobre o assunto é vazia e desprovida de fundamento.

Bom, dito isso, queria dizer que gostei de Guerra ao Terror que, inexplicavelmente foi lançado em DVD no Brasil há alguns meses pela Imagem Filmes, ignorando completamente este burburinho que ele vem causando acima da linha do Equador. Uma indicação ao Oscar poderia o levar, de forma inédita, aos cinemas das terras brasilis? Fica a questão. Voltando às minhas percepções, meu “gostar” não chegou ao nível do entusiasmo, do impulso irracional de apontá-lo como definidor de um período, assim como os superlativos críticos vem fazendo. O filme se concentra, basicamente, na vida de três homens do exército americano responsáveis por lidar com bombas, minas terrestres e qualquer outra coisa que possa explodir nas terras do Iraque. Sabe-se que um dos artifícios mais corriqueiros das milícias iraquianas é o uso de carros-bomba, homens-bomba e explosivos implantados em locais estratégicos, daqueles que não escolhem a nacionalidade de suas vítimas, mas que, segundo sistema de idéias discutível, sacrificam por um bem maior. Um destes homens é atormentado, sente psicologicamente os efeitos da guerra. O outro é quase que neutro o filme todo, é um peão muito competente e aparentemente estável. Já o protagonista é alguém diferente, um ilusório inconseqüente que, na verdade, carrega a ideologia do filme, ou sua mensagem mais marcante. Ponto forte: este homem, personagem central, é interpretado magistralmente por Jeremy Renner, ator de papéis anteriores menores, sem muito destaque, mas que aqui encarna um personagem que de tão poderoso poderá vir a ser um divisor de águas em sua carreira.

Kathryn Bigelow, sem dúvida, fez um filme de fortes intenções, de diversas leituras possíveis, além de se mostrar ágil como artífice da linguagem e hábil como condutora do nosso olhar. Ela cria diversos momentos muito tensos em Guerra ao Terror, em parte ajudada pelo tema, afinal de contas desarmar bombas é um momento tenso por si só. O grande problema do filme é a maneira formulaica com que, principalmente em sua primeira parte, lida com as missões e com as participações especiais, de atores renomados, como Guy Pearce e Ralph Fiennes. O esquema, quando desvendado, passa a não conseguir mais esconder os passos que a diretora segue. Os momentos em que realmente Guerra ao Terror fica grandioso são os das missões, mas a visão periférica de Bigelow é tão restrita nestes três personagens que o entorno parece ser apenas subserviente em outros momentos, ou seja, não tem o desenvolvimento dramático das cenas de “ação”. Até mesmo nos momentos de ação, de explosões para ser mais preciso, Bigelow assume o risco de tirar o impacto em algumas sequências, utilizando câmera lenta ao invés de potencializar a força, e ela realmente nos priva deste impacto, algumas vezes em prol da beleza de cena, porém como efeitos colaterais.

Guerra ao Terror, como dito acima, é um bom filme, já que se mostra competente em desenvolver sua história e subtextos, mas não sem perder ritmo algumas vezes. Quando digo isso, particularmente acho pouco um filme ser “competente”. As discussões ideológicas da diretora meio que se esvaem num desenvolvimento que limita nossa visão, que nos coloca frente a um conflito que pouco se caracteriza. Guerra sem Cortes, de Brian De Palma, por exemplo, é um filme bem mais engenhoso e instigante do que Guerra ao Terror (faço esta comparação pois ambos versam sobre a guerra contra o Iraque). Na verdade acho o filme de De Palma uma obra-prima narrativa, mas nem por isso o adjetivaria de “definitivo”, afinal de contas, nem a arte, a diplomacia, as teias políticas, ou o que quer que seja, podem definir algo tão devastador e irracional como uma guerra.

2 comentários:

  1. Olá, Celo!
    Belo texto. Meu voto é computado à Brian De Palma também.

    Abraçosss

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  2. Pois é Celo, tenho que ver este filme ainda para poder opinar com propriedade! Mas os filmes sobre a guerra no Iraque andam bem mornos, não me lembro de algum que tenha me vislumbrado realmente... Nem mesmo o do De Palma.

    Enfim, logo devo assistir e posteriormente comento contigo!

    Abraços,

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