sábado, 20 de março de 2010

Internet: Inimiga ou aliada?


A internet mudou o mundo, isto é fato. Hoje em dia todos têm alguma relação estreita com a web, e se não nos propuséssemos a tal, seríamos atropelados, pois a rede mundial dos computadores é uma teia invisível que se infiltrou de uma maneira tão decisiva nos vários procedimentos sociais, seja no trabalho ou mesmo nas questões de competência pessoal, que é impossível pensar na vida sem internet, suas facilidades e conveniências. Para os apreciadores de cinema, a internet também trouxe um salto quantitativo e qualitativo, seja nos conteúdos oferecidos e até na busca de filmes que não chegaram ou não chegariam às nossas salas de cinema ou mesmo mercado de home vídeo.

Sobre os conteúdos, com a proliferação da internet e o interesse, cada vez maior, das pessoas nas vantagens dela, o conteúdo disponibilizado na rede sobre cinema é variado, vasto e muito interessante. Teorias, reflexões, traduções de teses seminais, tudo está lá, disponível a quem quiser, bem diferente da dificuldade de acesso a este tipo de material, antes do advento da internet. Ou seja, a web pode sim ser fonte de estudos sobre cinema, de aprimoramento do pensar e do saber cinematográfico. A própria crítica cinematográfica tem se mostrado mais interessante na internet, longe das pressões e das pautas pré-determinadas dos veículos impressos que anteriormente dominavam a área. Informações, trailers, tudo converge para que sejamos - nós, os interessados pelo assunto - muito mais informados, alimentados de conteúdo, do que a geração pré-web. Há mudanças drásticas, e hoje uma revista mensal quase não consegue sobreviver, por conta da competição desleal com um meio de informação ilimitada e agilidade tão superior. Alia-se a isto, claro, o fato de as únicas remanescentes publicações impressas dedicadas exclusivamente ao cinema, não terem um conteúdo que se possa classificar de interessante, ou mesmo altamente relevante para compensar o investimento mensal, digo isto no Brasil, é claro.

Já o download de filmes corre solto, e é missão das mais simples encontrar aquele filme que se quer ver, com boa qualidade de vídeo e ótimas legendas em português. Existem fóruns específicos destinados a garimpagem e aglutinação de obras cinematográficas de difícil acesso, que nunca chegaram, ou chegarão, a ser lançadas no Brasil, e este me parece um dos grandes serviços que a internet presta para o cinéfilo: a democratização da audiência, já que de posse de um bom aparelho de DVD que leia os formatos digitais, não preciso mais me lamentar pela miopia das distribuidoras diante de determinados filmes, o esquecimento de obras importantes ou mesmo o fato de não ter TV à cabo para acompanhar aquele seriado que me interessa. Posso baixar tudo, assistir, ser mais livre para escapar da massificação que hoje tomou de assalto as salas de cinema. O digno de preocupação, é a utilização da internet como meio de baixar filmes de distribuição garantida no Brasil, desestruturando uma cadeia que me parece essencial para a continuidade do cinema como negócio, sendo assim também necessária à continuidade do cinema, pelo menos nos moldes como o conhecemos hoje. Baixar um filme que está no cinema ou que, mesmo que ele não chegue às telas de sua cidade, tenha lançamento garantido em DVD, me soa mais como imediatismo do que vontade de ver o filme, como se estar atualizado fosse mais importante. Já fiz muito disso, não nego, mas cheguei a conclusão de que é um pouco de falta de inteligência utilizar a internet para conseguir um filme de fácil acesso por outro meio, mais profissional, como o cinema e o DVD.

A internet é fantástica, e devo uma boa, senão a maior, parte do conhecimento que tenho sobre cinema, entre outros, à ela, às facilidades e pluralidades de conteúdo que ela me oferece, os filmes aos quais ela me permite contato. O que não acho esperto, agora mais claramente, é utilizar ela para burlar, para acelerar um contato, para ver antes aquilo que eu posso perfeitamente esperar, afinal de contas, o acervo de filmes existentes e disponíveis é considerável. Não quero com isso erguer a bandeira da moral, do que deve ou não ser feito, longe disso, afinal de contas cada um faz o que bem entender, e não sou eu quem vai colocar à prova a conduta alheia, só externo o que agora me parece certo. E tem outra: o cinéfilo, aquele que baixa um filme alternativo que em breve chegará ao cinema ou ao DVD, não estaria ele próprio contribuindo para que os cinemas, os lançamentos, sejam apenas redutos dos blockbusters, ao fazer minguar ainda mais o público dos alternativos? É um tema complexo, cheio de nuances e que, segundo meu ponto de vista, merece discussão, sem apontamentos definitivos ou algo que o valha, no intuito de ajudar a fazer da internet uma ferramenta de construção, não de desconstrução.

2 comentários:

  1. Olá, Celo!
    Aprovo sua discussão e concordo com seu ponto de vista. Podemos aplicar isso aos livros, que tanto aprecio. Por que baixar uma tradução ruim, realizada por fã, para ler na tela de seu computador (claro, sei da existência dos leitores digitais, mas tal realidade não é a brasileira ainda)?
    Sei lá, gosto do trabalho profissional e do trato adequado com uma obra, seja cinematográfica ou literária.

    Abraçosss

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  2. Bom, você sabe minha opinião sobre o assunto e não vejo necessidade de a replicar aqui.
    O problema que deve ser citado, ainda mais preocupante em nosso país, é a distribuição ilegal de filmes através de mídias físicas. Não só se deixa de contribuir para o fortalecimento da indústria cinematográfica como se colabora com outra que cresce e se fortifica cada vez mais.

    Abraços!

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