segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O Brasil titubeante do Festival de Cinema de Gramado


Após nove dias, eis que o Festival de Cinema de Gramado chegou ao seu final. Foi uma jornada em meio a filmes, conversas com gente de cinema e a convivência com o povo hospitaleiro de Gramado. A seleção dos nacionais deixou clara a fragilidade do cinema brasileiro, que outrora foi o carro-chefe de uma produção cinematográfica latina, mas que hoje, a julgar pelo conjunto que esteve em Gramado, titubeia e se lança desesperado em busca de identidades, de formas de retratar um país que, por seu tamanho continental, se vê ideologicamente desprendido do resto da América do Sul. Falo isto, pois a seleção de filmes estrangeiros foi muito superior a nacional, com títulos fortes, mesmo os vindo de países sem muita tradição com cinema, ou quase nenhuma, como é o caso da Nicarágua. Oriundos de cantos diversos, estes títulos estrangeiros de alguma forma dialogam entre si, o que prova a competência dos curadores do Festival, pelo menos no que tange a esta parte da seleção, na construção de um panorama.

Pelos filmes brasileiros exibidos, ficou a impressão que temos atualmente bons títulos e artistas emergentes valorosos, vide talentos como Jeferson De e seu ótimo Bróder, um filme de periferia, mas que, assim como o empolgante 5 X Favela – Agora por Nós Mesmos, foge do senso comum, para mostrar um povo que é periférico sim, mas que não precisa ser taxado de bandido. Também é animador que exemplares como Elvis e Madona ou A Última Estrada da Praia, exibidos na Mostra Panorâmica, dialoguem fortemente com o público, sendo ótimos filmes, populares sem serem populistas. Não há, porém, por egoísmo e circunstâncias mercadológicas, um “cinema brasileiro”. Existem sim “filmes brasileiros”, que trilham caminhos tortuosos e solitários em busca do público, ou da parcela dele que os interessa. Sem este senso de unidade, para aí sim a formação de um conjunto cinematográfico brasileiro, acabar com os monstros e diminuir as dificuldades custará muito mais tempo e empenho.

2 comentários:

  1. Fico com as suas boas indicações para sessões futuras, esperando que tais filmes tenham destino em nosso mercado nacional de cinema em meio a tantos blockbusters. Também tenho esperanças de pegar algum desses no Festival do Rio!

    Parabéns pela cobertura do Festival Celo, por toda a análise feita e por ter atingido um nível crítico que lhe permite relizar esse tipo de trabalho tão importante.

    Grande abraço!!

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  2. Olá, Celo!
    Obrigado por suas ricas impressões.

    Abraçossss

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