quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Festival do Rio 2010: A vida durante a guerra


Todd Solondz. Para quem conhece o diretor norte-americano, a dualidade do “ame ou odeie” se aciona e causa impacto apenas com a leitura do nome do diretor. Solondz faz cinema crítico disfarçado de imparcial, carregado de simbolismos e argumentos dos mais válidos e ácidos quando se aponta o dedo para a sociedade contemporânea – não apenas a dos Estados Unidos, já que seus filmes poderiam ser passados em muitos outros países, inclusive no Brasil.

Em A vida durante a guerra o diretor retoma seu enredo de Felicidade, filme de 1998 que apresentou um núcleo familiar disfuncional e uma série de outros personagens que se relacionam com cada um de seus integrantes. Com um elenco inteiramente diferente, o filme coloca uma lupa na realidade de cada uma dessas pessoas nos dias de hoje – e o resultado não é dos mais animadores ou otimistas, como já se espera do cinema de Solondz.

Sempre econômico nos recursos estéticos e técnicos, Todd Solondz busca com sua composição visual a representação de uma sociedade imaculada e limpa, que beira à perfeição. Quando se aproxima de cada residência de fachada impecável, no entanto, é justamente o oposto que se enxerga. Em grande parte do filme, Solondz salienta sua economia inserindo apenas dois personagens em cena com um longo diálogo, daqueles cheios de referências e menções que apenas ouvidos atentos notarão.

Mais uma vez temos Joy como centro do filme, que mesmo afundada em desgraças acredita em um futuro no mínimo aceitável para sua vida – ainda que Andy e Allen contribuam justamente para que o oposto aconteça. Com mesmo destaque no filme está sua irmã, Trish, que ignora completamente o passado traumático causado pelo seu ex-marido pedófilo e segue procurando por uma normalidade irreal ao lado de seus filhos – dos quais se destaca Timmy, com a importância que Billy, seu irmão mais velho, teve em Felicidade.

Sem Phillip Seymour Hoffman, Jon Lovitz, Jane Adams ou Dylan Baker, Solondz poderia ter um problema grande com seu elenco em A vida durante a guerra, o que não acontece pelas ótimas performances entregues por atores como Shirley Henderson, Allison Janney e Ciarán Hinds. A troca de elenco funciona também para distanciar ainda mais o filme de Felicidade, tornando este um filme independente da obra dos anos 90. Todas as relações com o filme anterior são óbvias e sim, se trata de uma sequência, mas não existem impedimentos para que este A vida durante a guerra seja visto sem que se conheça o filme anterior de Solondz.

Com o humor bastante particular de seu cinema, Todd Solondz coloca o dedo na ferida de uma sociedade que só procura a normalidade vendida pelos veículos de massa e que se reproduz abraçada a um conformismo quase absurdo. Assim como em todos os seus outros filmes, Solondz apresenta argumentos que podem causar tudo aos seus espectadores, menos a indiferença. 

3 comentários:

  1. Já estava muito a fim de ver, pois adoro o Todd Solondz, mas depois de ler suas impressões fiquei ainda mais.
    Vou torcer para "A vida durante a guerra" entrar pra repescagem,assim assisto logo!

    valeu
    bjs
    Carol

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  2. Oi Kon,

    Todd Solondz é o cara. Adoro seus filmes, a maneira como ele envolve personagens complexos, fragmentados, num ambiente e entorno que aparentemente nada têm de hostis. Gosto por que ele nos diz que a aparência é muito frágil, e que todos temos camadas menos suscetíveis à luz do dia. Desde já, ansiosíssimo pelo filme.

    abraços

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  3. Olá, Kon!
    "Felicidade" é excelente e, devido aos elogios disparados por você, me vejo impelido a assistir a este.

    Obrigado,
    Até logo.

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